MACHA NA DANÇA!

Djalma Carvalho

Em face da conotação grosseira que se dá aos termos mulher-macho e mulher-homem, prefiro escolher, para começar esta crônica, o pouco usado vocábulo “macha”.
“Mulher no Comando” foi o título do ensaio publicado na última página de Veja, de 25 de janeiro passado, assinado pelo consagrado jornalista Roberto Pompeu de Toledo.
O comentário do festejado ensaísta foi feito em virtude da recente eleição de Michelle Bachelet, a primeira mulher a assumir a presidência do Chile. Lembrou outros exemplos históricos de mulheres presidentes e primeiras-ministras, algumas já falecidas, incontestáveis lideranças políticas mundo afora.
Disse ele, em determinado trecho: “Mulheres-homens, como Thatcher ou Golda Meir, aprenderam, desde cedo, a nadar como peixes, nesse ambiente, e por isso governaram como machas.”
Lembrei-me, a propósito, da figura de Ary Cardoso, contínuo do Banco do Brasil, que trabalhou na agência de Santana do Ipanema até o início da década de 60. Achando meio estranho, dele ouvi pronunciada, pela primeira vez, a palavra “macha”. Mas isso já faz mais de 40 anos.
Quando ali tomei posse em julho de 1961, não mais o encontrei na agência. Fora transferido, poucos meses antes, para a cidade de Penedo, sua terra natal. Certamente, a pedido.
No arquivo-morto, encontrei o registro de sua passagem pela agência, expresso numa fita de cartolina fixada no alto da primeira prateleira, que dizia: “Arquivo organizado por Ary Cardoso dos Santos.” Ainda mais: datado e rubricado pelo zeloso servidor.
Não perdia festa e apreciava dançar. Sempre elegante e trajando impecável terno branco, aos primeiros acordes da orquestra estava Ary a dançar no salão do Tênis Clube Santanense nos históricos bailes ali realizados. Perfumado e cabelo a reluzir de brilhantina, lá ia ele a rodopiar no salão, compenetrado com os passos dos boleros e empolgado com a leveza da senhorita Cristália Queiroz, que dançava muito bem – pé-de-ouro mesmo – e, por isso, era moça, então, disputada pelos rapazes nos bailes da cidade.
Elogio não faz mal a ninguém, seja lá do jeito que for.
Passada a festa, o cavalheiro Ary fazia o seguinte comentário para realçar as inequívocas qualidades de dançarina da jovem santanense, a sempre solícita dama de sua preferência: “Ela é macha na dança, gente!”
Não sei onde ele andará. É possível que resida, hoje, em Aracaju, gozando a merecida aposentadoria e admirando as belezas da bem-cuidada orla marítima da capital sergipana.

Maceió, fevereiro de 2006.

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