Em dias de agosto próximo passado, quando caminhava por duas belas avenidas de Paris, dizia a meus companheiros de excursão que o luar de lá era igual ao do lado de cá. Claro que se tratava de tola observação do cronista. Na verdade, na tarde-noite anterior, encantara-me com a lua cheia que surgira belíssima enquanto o barco, conosco, singrava as mansas águas do rio Sena. Luar realmente romântico, poético, que se derramava sobre aquele famoso sítio turístico e histórico, onde nascera a bela capital da França.
Sempre me fascinou a lua cheia. Sobretudo a de cá, a do meu tempo de criança, límpida, mágica, resplandecente, que nascia por trás da serra do Gugy, no Gravatá, em Santana do Ipanema. Nunca haveria de esquecê-la.
Como se vê, a prodigalidade da natureza manifesta-se em qualquer latitude, tanto aqui como em Paris, em qualquer lugar.
Agora, nesse feriadão mais recente, retornei à praia do Francês, ainda a recordar os grandes momentos da viagem à Europa, passados ao lado de Rosineide, Ademir e Marisete, companheiros de excursão.
Em manhãs divinamente ensolaradas, nos arrecifes quebrava o mar azul, em cujas mornas águas se banhavam turistas de todos os recantos do Brasil e do mundo. Pisando a fina areia do bendito espaço de lazer, beldades desfilavam a céu aberto. Nesse cenário encantador, quatro dias passaram depressa, e não foram dispensados banhos de mar e de piscina, caminhadas, drinques e deliciosos petiscos.
A lua escondera-se na noite tropical que se fora, mas coloridas pipas, vez por outra, bailavam no ar da bela praia, equilibradas por mãos de felizes crianças. As pipas da praia do Francês fizeram-me lembrar o final do livro Anjo de Rua, recém publicado, de autoria do santanense Manoel Constantino Filho, primo e afilhado do cronista.
Nessas temporadas de lazer, costumo reservar algum tempo para leitura. Aproveitei o agradável ensejo e li o referido livro com grande interesse, embalado pela bem urdida história de Careca, sofrido menino de rua e também personagem do conhecido problema social que tanto aflige as grandes cidades brasileiras. Tendo Recife como cenário do enredo, o assunto é tratado com rara sensibilidade, competência e boa qualidade de texto. Nele o autor procura remeter às nossas autoridades maior reflexão sobre o problema dessas criaturinhas excluídas da sociedade e normalmente já usuárias de drogas. O livro traz ilustrações do artista plástico Roberto Ploeg, holandês que se apaixonou pelo Nordeste e por aqui ficou.
Ao final da ficção, Careca “reencontra-se” com Chupeta, seu amigo de infortúnio, que fora apanhado roubando e, por isso, jogado ao rio sem saber nadar. Empinando colorida pipa, seu papagaio falador, Careca, já recuperado e traçando planos para vida digna, estabelece “conversa” com Chupeta, o leal amigo que o protegia nas ruas do submundo da vida e do crime.
Parabéns, portanto, ao autor, que desde os 15 anos de idade reside em Recife, onde se fez jornalista, escritor, poeta, ator, diretor premiado e produtor de teatro e cinema.
Maceió, novembro de 2011.
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