IDADE DA GENTE

Djalma Carvalho

Para início de conversa, vejo que nada não é nada. É algo sem nenhum valor. É o não ser.
Às vezes, penso em concordar com Manuel Bandeira (1886-1968), consagrado poeta pernambucano do passado, citado pelo cronista, também pernambucano, Joca de Souza Leão: “A crônica é feita de pequenos nadas.”
Veremos, ao final, o pequeno diálogo que tive com um cidadão na fila de caixa de importante casa comercial daqui de Maceió, motivo destas linhas.
Acabo de ler o livro de contos Memória de Minhas Putas Tristes (Editora Record, Rio de Janeiro, 2024), de autoria de Gabriel García Márquez (1927-2014), genial escritor colombiano, autor de Cem Anos de Solidão, obra que lhe valeu o Prêmio Nobel de Literatura, em 1982.
Encontro ali a seguinte frase do fictício e apaixonado personagem de 90 anos de idade: “A idade não é a que a gente tem, mas a que a gente sente.”
No primeiro conto do livro, lê-se que o apaixonado personagem desejava comemorar seu aniversário de 90 anos de idade ao lado de uma virgem de 16 anos, que deveria ser recrutada pela dona do bordel, sua amiga de aventuras de muitos anos passados.
Isso mesmo.
Segundo mestre Aurélio, “idoso é todo aquele com bastante idade; e velho é o cidadão muito idoso”. A propósito, faz pouco tempo, cerca de 20 anos, que o Estatuto do Idoso entrou em vigor no Brasil, instituído pela Lei nº 10.741, sancionada em 1º de outubro de 2003. Pelo documento legal, “o idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana”. E mais: “Todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.”
Minha amiga Graciosa costuma dizer que não vê vantagens nenhuma em ser idoso, salvo em fila de supermercado ou de banco, tendo à vista a placa “preferencial”.
Voltemos, então, ao assunto inicial. Na fila preferencial de caixa, encontro-me em conversa com um cidadão de 65 anos de idade, boa prosa, alegre, pançudo, à minha frente, que, gentilmente, me cedeu seu lugar na fila. Admirado com os meus 85 anos de idade, perguntou-me: “Como chegarei a essa idade?”
Resposta, abraçando-o: “Baixando essa barriga ...”
Maceió, maio de 2024.

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