EU, CAMINHONEIRO...

Djalma Carvalho

Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.

Nunca me passou pela cabeça a ideia de dirigir caminhão.
Caminhoneiro é o motorista profissional que dirige caminhão nas estradas, transportando mercadorias pelo Brasil afora, produzindo riquezas e construindo o progresso do país.
Tenho amigos caminhoneiros, admiráveis trabalhadores, lutadores. Homens decididos, corajosos, que gostam da profissão. Os caminhoneiros enfrentam perigo de toda ordem nas estradas e muitas vezes terminam vítimas da terrível e crescente violência que assola o país. Notícias de assaltos e de seqüestros enchem páginas de jornal ou são vistas no noticiário de televisão todos os dias. Ameaçados de morte, eles perdem a carga, quando não perdem o caminhão e a vida.
Apesar de tudo isso, os caminhoneiros são pessoas bem-humoradas, divertidas, dados, ao longo das estradas, a aventuras amorosas sob a costumeira alegação de que “ninguém é de ferro”.
Gozadores e espirituosos, no para-choque do seu caminhão colocam mensagens diversas, filosóficas, folclóricas, ditos populares, provérbios, versos rimados, críticas aos costumes sociais, aos políticos e frases engraçadas que não poupam, sequer, sogras e maridos traídos. Os cronistas, por sua vez, não perdem tempo. Enchem livros e mais livros com suas histórias, com suas aventuras vividas nas estradas brasileiras.
Deixemos para trás, por enquanto, o assunto caminhoneiro.
No período de 8 a 12 de dezembro passado, estivemos em Gramado, na Serra Gaúcha, para, mais uma vez, viver o gostoso clima de montanha e assistir ao espetáculo chamado Natal Luz. Também rever praças, ruas e avenidas lindamente decoradas e iluminadas, além da vista voltada para o fantástico casario de moldes suíços da bela e encantadora cidade. Ali o turista se sente num Brasil diferente.
Lá estivemos em período em que muitos turistas lotavam ruas, hotéis, bares e lanchonetes. Trânsito engarrafado e gente que regurgitava entre a saída da “rua coberta” e a frente da Catedral de São Pedro, o centro festivo da cidade onde tudo acontece.
Nossa caravana, composta de 42 turistas alagoanos, estava sob os cuidados e orientação de nossa agente de viagem, Pauline Rezende. Todo o grupo ficou hospedado no Hotel Prodigy. Beleza de hotel, confortável, amplas instalações, recentemente inaugurado e localizado bem perto do centro comercial e turístico de Gramado.
Certo dia, eu e Rosineide decidimos almoçar no elegante restaurante do hotel onde estávamos todos hospedados. Almoço, claro, acompanhado de vinho e chope.
Costumo conversar com os garçons que nos servem. Chamo-os pelo nome. Às vezes, pergunto-lhes se residem na mesma cidade, etc.
Curiosamente, a garçonete Fernanda, que gentilmente nos atendeu durante o almoço, é natural de Ribeirão, cidade relativamente perto da capital pernambucana. Na conversa, disse-lhe que costumava transitar pela BR-101, passando ao largo de sua cidade natal, em eventuais viagens ao Recife.
Andei alimentando a conversa, enquanto almoçava e bebia o delicioso vinho.
Daí, a surpresa com a pergunta que me fez a inexperiente garçonete: “O senhor é caminhoneiro?”
Pois é. Achou-me com cara de caminhoneiro. Mas nada demais.

Maceió, janeiro de 2018.

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