CRÔNICA CINQUENTENÁRIA

Djalma Carvalho

Nesta rica temporada de bate-bocas entre ilustres membros de instâncias superiores de poder em Brasília, o “engolir” e “digerir”, especificamente, fizeram lembrar-me da minha primeira crônica publicada em jornal.
A crônica Festa de Santana, cujo título recebeu letras de quase dois centímetros de tamanho e que marcou minha estreia na imprensa, agora será chamada de crônica cinquentenária, porque foi publicada em 2 de agosto de 1959, na Gazeta de Alagoas, há 50 anos, portanto.
Como mérito, divulguei, então, a festa da padroeira de Santana do Ipanema, minha terra, e comentei a exagerada maneira de se começar a festejar a noite dos padeiros, aos primeiros minutos da madrugada, com o espocar de bombas e foguetes, sirenes ligadas, fato abusivo que acordou os moradores do lugar. De negativo, a notícia de ameaça, como represália, que me deixou sobressaltado por alguns dias.
Disse, ali, que a Festa da Juventude, que se tornaria famosa, fora realizada no dia 17 de julho daquele ano e iniciada com a saudação aos jovens da cidade, feita pelo então acadêmico de Direito, Geraldo Bulhões. À noite, no animado baile realizado, Risoleide Lins fora eleita Rainha da Mocidade.
Acabo de completar 50 anos de militância na imprensa, como colaborador. Perdi a conta do número de escritos publicados, quase todos eles condensados em sete livros, produção literária que me deu a honrosa condição de membro efetivo da Associação Alagoana de Imprensa (AAI) e da Academia Maceioense de Letras. Deu-me também o registro oficial e legal de jornalista-colaborador.
No início do aprendizado, minha grande escola foi, sem dúvida, o suplemento dominical Página dos Municípios do Jornal de Alagoas, editado pelo mestre Carvalho Veras, a quem tive acesso pela mão amiga do jornalista Rubem Cavalcante.
Santanense e meu colega de ginásio (1954/1957), José Marques de Melo iniciou sua carreira de jornalista e comunicador também naquele mesmo ano. Acaba de publicar, agora, seu livro de memórias Vestígios da Travessia – Da imprensa à internet – 50 anos de jornalismo. Dedicou-se, profissionalmente, à Comunicação Social, tornando-se, brilhantemente, professor catedrático e conferencista. De minha parte, a carreira de bancário do Banco do Brasil não foi obstáculo para que eu continuasse a teimosia de diletante cronista.
Costumo visitar Santana do Ipanema por ocasião de sua festa da padroeira. Agora em julho, lá estive. Vi o novo e bonito interior da igreja matriz, com o altar-mor reformado e muito bem decorado, certamente resultado do trabalho do jovem e dinâmico pároco Adalto Alves Lima. O Tênis Clube Santanense, com boa orquestra e repleto de amigos, pareceu-me despertar no santanense o desejo de reviver os grandes e elegantes bailes de outrora.
Na extensa lista de noiteiros da festa não mais existem padeiros. Também o intempestivo festejo não mais se repetiu. Mas comigo ficou guardada a notícia da ameaça de me fazerem engolir o jornal com a publicação que eu fizera nos melhores propósitos. Tudo, afinal, não passando de notícia, felizmente.
Maceió, agosto de 2009.

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