Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Maceioense de Letras
Confesso que não encontrei na culinária nordestina, ou brasileira, nenhuma referência à expressão popular “comer com farinha”.
Comer, segundo mestre Aurélio, também é beber (“o automóvel “come” ou “bebe” muita gasolina”). Beber é engolir líquidos, até bebidas alcoólicas.
Farinha, por seu turno, nada mais é que o resultado de raízes de mandioca trituradas, usada como mistura na alimentação do brasileiro. Com a farinha, o cozido de carnes, por exemplo, torna-se ainda mais delicioso prato, sobretudo se ele vier com aquela “graxinha” (gordura) como providencial cobertura.
Comer com farinha, no dicionário informal, tem como sinônimo apreciar algo, ter prazer. No mundo etílico ou, melhor dizendo, no mundo do alcoolismo, significa apreciar de modo especial aguardente de cana. Aliás, existe música com letra do compositor Adenir Seifert, com a seguinte estrofe: “Eu vou beber, beber/eu vou tomar, tomar/vou comer com farinha/que é pra não atontar.”
Farinha de mandioca, especialmente a fabricada em Sergipe, é mistura alimentar de reconhecido valor nutricional. Mas mistura de farinha com bebida é, no mínimo, conversa fiada ou presepada de cachaceiro.
Pois bem. Em crônica anterior, tratei da viagem a Mogi das Cruzes, São Paulo, onde, acompanhado da esposa, irmãos, cunhadas, sobrinhos e primos, assistimos à bela cerimônia do casamento da prima Ana Paula com o jovem Fernando. De lá, demos uma rápida esticada até a capital paulista, mas com o grupo reduzido a três irmãos, esposas e as irmãs Ivone e Maria das Graças. O pouco tempo de estada em São Paulo foi suficiente apenas para compras nas Ruas José Paulino e 25 de Março e a imperdível visita ao Mercado Municipal.
Bem perto da Estação da Luz, no início da Rua José Paulino, esquina com a Rua Prates, está instalada a banca comercial de “Pelé”, não do famoso jogador e glória do futebol brasileiro, mas do simpático moreno que se orgulha do apelido. Sua banca está repleta de bolsas, carteiras e suvenires. Nessa mesma esquina está o Bar e Restaurante Tupã, ponto bem frequentado por turistas e também parada obrigatória do mano José e acompanhantes, para o saboroso chope e sugestivos petiscos.
O “Pelé” da banca, sempre de chapéu preto de abas curtas, é baiano de Feira de Santana, bom vendedor, atencioso, boa gente. Tornou-se amigo desse meu irmão, a ponto de receber dele brindes de Alagoas, a exemplo de garrafas de cachaça de famosas marcas.
Enquanto as madames faziam compras, ficamos ali mesmo no Bar Tupã, bebericando, batendo papo e com a incumbência de reservarmos mesas para o almoço do grupo.
Conversa vai, conversa vem, comentamos com o gerente do bar a boa impressão que tivemos de “Pelé”, que nos pareceu, a nosso exemplo, sujeito também apreciador de bebidas alcoólicas, e tudo o mais que lhes diz respeito.
Afinal, a informação do gerente: “Se ele gosta de beber? Ora, ele come com farinha!”
Maceió, agosto de 2014.
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