Neste dia 8 de dezembro que passou fez 49 anos que o fato aconteceu, simples fato, mas que marcou profundamente minha vida. Embora já tenha passado tanto tempo, parece-me que tudo isso aconteceu ontem, porque a cena ainda continua muito viva, presente em minha memória, e que serviu, a partir dali, para definir o caminhar de duas vidas.
Refletindo, agora, sobre o fato, valho-me da conhecida expressão latina “carpe diem” para registrá-lo à guisa de memórias, de saudáveis relembranças. Aproveitar a vida, eis a questão, eis o conselho que se dá aos jovens de hoje, à vista desta sábia mensagem de viver a vida bem vivida, não deixando nada para fazer depois. Bem o disse o poeta argentino Jorge Luís Borges: “Não percam o agora.”
Sempre apreciei, desde moço e com extrema responsabilidade, a atmosfera de festas, de bailes, de boates, sem luxo, gastança ou exibicionismo. Apenas levado pelo prazer de dançar, de divertir-me, de celebrar a vida da melhor forma.
Andei pelo Brasil e pelo mundo afora, não muitas vezes, encantando-me com as paisagens, com as belezas da natureza, conhecendo lugares, civilizações e culturas diferentes, procurando entender, também, as pegadas dos que fizeram História aqui e ali. Nem me dispensei de desfilar em escola de samba, em meio a tantas luzes, holofotes e sensuais requebros de mulatas no sambódromo do Rio de Janeiro.
Investir em emoções sempre esteve presente em minha vida.
Pois bem. Naquele final de ano de 1960, eu havia concluído o curso de técnico em contabilidade em Santana do Ipanema. Funcionário do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), preparava-me para o concurso público do Banco do Brasil, em busca de um porto seguro, de afirmação profissional, o que felizmente ocorreu a partir do ano seguinte, com a minha aprovação.
Fazia alguns dias, o namoro de cerca de dois anos com Evalda havia sido interrompido, não sei por que motivos. Solteiro e muito jovem, via-me, então, livre de qualquer compromisso sentimental. O convite para o tradicional baile da festa da padroeira na cidade de Maravilha fora providencial, caíra-me do céu. Distante cerca de 20 quilômetros de Santana do Ipanema, Maravilha é cidade pequena, mas de gente hospitaleira e amiga, naquela época, então, considerada uma grande família. Realizado num amplo armazém, o animado baile chegou à clara madrugada.
Dancei, diverti-me, namorei uma jovem santanense. Com ela marquei o primeiro encontro para o dia seguinte, às 18 horas, na pracinha quase em frente à casa de minha avó, onde eu residia, em Santana do Ipanema.
Ainda hoje não sei como essa notícia chegou tão depressa aos ouvidos da minha ex-namorada. A verdade é que, à hora do encontro marcado, após descer, distraído, os degraus da casa de minha avó e pisar firme a calçada, levei o maior susto. A ex-namorada estava ali, à minha frente, a perguntar-me: “Aonde vai?”
Não fui. Com Evalda, que frustrou o encontro, casei aos 23 anos de idade, e a união já dura quase 48 anos. A Doença de Alzheimer, como trapaça do destino, acaba de interromper essa primavera de emoções, vivida intensamente a dois.
Maceió, dezembro de 2009.
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