Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Maceioense de Letras
Li no livro Comer Rezar Amar, de autoria da americana Elizabeth Gilbert, a criativa expressão costumeiramente usada na Itália, chamada Bel Far Niente, que significa “a beleza de não fazer nada”.
Fácil foi associar a expressão à saudável vida dos que dedicaram boa parte da existência ao trabalho duro, responsável, honesto, assinando ponto diário. Agora, aposentados, escolheram a melhor maneira de viver feliz, frequentando academia de ginástica e musculação, fazendo caminhada, divertindo-se, viajando e sabiamente administrando a ociosidade.
Incluo-me nesse contingente de desocupados, de vidas boas. Ou “vagabundos”, como assim os queridos aposentados foram tratados por um ex-presidente da República.
Nessa conformidade, estive em julho deste ano em Santana do Ipanema para participar de três eventos. Inicialmente, assistir a uma movimentada assembleia ordinária da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes, convocada pelo jovem presidente José Malta Fontes Neto; no dia seguinte, participar da alegre e festejada caminhada anual, já no seu 9º ano de edição, acompanhado de mais de 70 divertidos aventureiros, tendo como destino o sítio Camoxinga dos Teodósios, distante 8 km da cidade, para em seguida enfrentar a subida da serra do Poço; finalmente, assistir à tradicional festa da padroeira de minha cidade.
Ressalte-se que a tradicional Festa de Santana, de grande repercussão no sertão alagoano, se realiza, anualmente, no período de 17 a 26 de julho. Dela consta, normalmente, a seguinte programação: novenas, leilão, parque de diversão, queima de fogos, competições esportivas, desfile de moda, baile, etc., encerrando-se com uma grande e compacta procissão pelas ruas da cidade. Além do fervor e da tamanha fé que se observa nos fieis católicos de minha terra, a festa tem o poder mágico de reunir na cidade, em belo reencontro de confraternização, santanenses de todas as idades então espalhados pelo Brasil afora.
Durante as novenas, a hospitaleira cidade engalana-se. Filhos da terra logo se juntam aos visitantes em fraternal abraço, tudo parecendo confraternização de família.
A concorrida caminhada anual, por exemplo, possui o mérito de promover o agradável reencontro de velhos amigos, divertidos brincalhões, ex-colegas de trabalho e contemporâneos de escolas. Boas relembranças de molecagens praticadas na infância não deixam de vir à tona.
Os dirigentes da estranha “Federação Organizadora dos Divertidos Aventureiros”, cuja safada sigla constou da camisa distribuída, estabeleceram que a caminhada a partir do próximo ano será necessariamente vinculada a uma ação social na cidade. Cada participante recolherá à Casa São Vicente de Paulo donativos, preferencialmente, lençóis, fronhas, toalhas, fraldas, sabonetes, perfumes, creme dental, escovas e produtos não perecíveis.
Dito isso, retornemos ao início desta conversa, em que tratei de vida boa e de aposentadoria. Lembrei-me, a propósito, do saudoso amigo Adalberto Cirilo, falecido há poucos anos, proprietário de banca de venda de jornais e revistas que existia na Praça Deodoro, em Maceió. O Galego da Banca, como ele era conhecido, ao receber a notícia da minha aposentadoria, recomendou-me que imediatamente adquirisse um daqueles instrumentos de trabalho utilizados pelos cortadores de cana nos canaviais de Alagoas, e o carregasse comigo no porta-malas do carro.
Perguntei-lhe, então, para quê. E ele me respondeu, gracejando: “Para você dar uma foiçada no sujeito que doravante lhe oferecer trabalho!”
Maceió, agosto de 2015.
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