APOSENTADORIA

Djalma Carvalho

Para começo de conversa sobre aposentadoria, reproduzo o rápido diálogo havido, há pouco, do menor Théo com sua mãe. De sete anos de idade, neto de minha esposa e que me chama de tio, flamenguista, disse ele:
– Mãe, quando eu crescer quero ser aposentado.
A mãe indagou:
– Por que, Théo?
Resposta imediata:
– Para ganhar dinheiro sem trabalhar.
Em verdade, é isso mesmo. Depois de chegado ao término do tempo de serviço prestado, na forma da lei o trabalhador alcança a tão sonhada aposentadoria, desligando-se do emprego e passando a receber, mensalmente, determinada remuneração.
Aposentadoria é um estado de espírito, um prêmio legal. Daí em diante, o descanso, o livre para viajar, divertir-se e gozar a vida como melhor possa aproveitá-la. Não mais haverá ponto para assinar, nem horário a cumprir.
A remuneração no dia certo estará na conta bancária.
Para muita gente, que não se preparou para aposentar-se, o prêmio alcançado, a regalia, poderá tornar-se um castigo. Com saudade, o aposentado deixará para trás o contato diário com seus colegas de trabalho, perdera status, ninguém mais o chamaria de chefe, nem mais seria convidado para festas promovidas por líderes ou empresários da comunidade onde lotado por muito tempo. A ele restará aprender a administrar a ociosidade, visitar sua associação de classe e entrosar-se com os colegas aposentados, velhos amigos, para longos papos e recordações dos tempos idos. Não esquecer as agências de viagens, para fazer turismos pelo mundo afora.
Depois de 38 anos de trabalho, 34 dos quais com carteira assinada por meus empregadores, minha aposentadoria veio de forma legal, que eu a chamei de “ensarilhar as armas”, usando a metáfora adequada, porque cumprido meu tempo de labor.
Aposentei-me como bancário do Banco do Brasil, como planejei, como Deus assim me permitiu. Para gozar o tempo todo em viagens, em turismo, em divertimento, em lazer, em vida boa. Tenho que dar graças a Deus.
Desligado do emprego, aposentado fazia dias, recebi do amigo dono de uma banca de revista na Praça Deodoro, em Maceió, o conselho para não mais trabalhar em minha vida. Gracejando, prometera-me, também, um estranho presente pela minha condição de aposentado. Iria me oferecer uma foice (daquelas de cortador de cana), para que eu a guardasse na mala do meu automóvel. Perguntei-lhe para quê? Resposta dele:
– Para, doravante, ameaçar cortar o pescoço de quem lhe oferecer trabalho!
O “Galego da Banca” era uma figura.

Maceió, julho de 2024.

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