Muito aprendi naquele curso intensivo para administradores, realizado em Brasília, em 1971, ministrado por professores do Banco do Brasil, cujo Centro de Formação de Pessoal (Cefor) parecia uma universidade.
Administrar pessoal é, antes de tudo, administrar conflitos. Em minha vida de bancário do BB, assumi cargos em comissão muito cedo, exercendo-os, ininterruptamente, durante 28 anos até encerrar minha carreira como gerente geral de agência. Durante todo esse tempo administrei pessoal e, por certo, aprendi a conviver com gente de culturas, hábitos, comportamentos e sentimentos diferentes.
Como chefe, tentei acertar os passos disciplinares do setor ou da agência à luz dos normativos da empresa a que servia. Confesso que andei dando algumas cabeçadas, sem entender bem que as normas disciplinares não deveriam ser tão rígidas como assim indicavam suas frias letras. Poderiam ser mais flexíveis uma vez interpretadas como trilha para a melhor consecução dos objetivos do BB como empresa.
Cheguei muito cedo ao cargo de subgerente. Apenas com cerca de sete anos de efetivo exercício. Antes, nos primeiros meses do governo militar, que transferiu os gestores da agência em Santana do Ipanema, fui levado, interinamente, a esses cargos sem a experiência devida. A área de pessoal ser-me-ia, pois, o mais difícil e sensível encargo administrativo de minha carreira.
Na verdade, uma coisa me facilitou nessa difícil tarefa: procurar conhecer mais de perto os colegas de trabalho, suas virtudes, defeitos e aspirações, sempre com ênfase na relação amistosa e respeitosa entre chefe e subordinados. Daí o clima de cooperação e colaboração que sempre permeou essa relação, certamente benéfico para a empresa e proveitoso para o próprio servidor. Os cursos intensivos de que participei serviram, afinal, para aplainar aquela minha primeira visão administrativa.
Graças a Deus, durante toda essa longa travessia, não tive problemas que merecessem registro especial. O registro que faço agora é somente o de reminiscências, porque todas elas não escaparam da observação do cronista.
No final do ano de 1975, fui transferido para a agência centro de Maceió, para exercer novo cargo comissionado, depois de 14 anos de trabalho na filial onde havia tomado posse. Na nova agência, encontrei velhos e dedicados chefes que estavam cedendo seus lugares a novos valores. No setor de Cobranças, por exemplo, estava nessa condição o chefe Marinho, cuja aposentaria ocorreria em clima de festa poucos dias depois.
Soube, então, que Marinho, muito querido e brincalhão, tinha o especial hábito de devolver ao subordinado a tarefa mal executada, feita com erro ou com falha, dizendo-lhe mansamente: “Coleguinha, está errado, conserte isso”; “coleguinha, refaça isso”; “coleguinha, faça de novo”; etc.
Certa feita, perguntaram-lhe por que, nessas circunstâncias, tratava o subordinado de “coleguinha”. E a resposta dele veio de pronto: “Ora, porque não posso chamá-lo de filho da puta!”
Maceió, janeiro de 2010.
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