Há uma frase marcante do escritor João Guimarães Rosa (1908-1967), que diz: “O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas.”
Faz alguns meses, li o livro Adelson de Miranda – Um Exemplo a Ser Seguido (SWA Instituto, Santana do Ipanema, 1ª edição, 2020), de autoria do jornalista e escritor José Malta Fontes Neto, obra bem produzida, de especial qualidade, tendo na capa a foto de olhar penetrante do biografado, como se ele ali estivesse atento a observar, passo a passo, a leitura do seu livro, a cargo de inúmeros e estimadíssimos amigos seus.
Meu amigo e confrade Malta cada vez nos surpreende com o seu vitorioso empreendimento de livreiro e/ou pioneiro editor de livros na Terra de Escritores, como assim é cognominada Santana do Ipanema.
No embalo, não deixei de ler depoimentos sobre Dr. Adelson Isaac de Miranda (1930-1995), inseridos ao longo das 249 páginas, com inúmeras fotos ilustrativas, escritos espontaneamente por nada menos que quatorze saudosos amigos. Lendo cada depoimento, ter-se-á lido o livro da primeira à última página. Sem contar, claro, com o belo prefácio escrito pelo confrade conterrâneo Luiz Antônio de Farias – Capiá.
Sobre a vida de Dr. Adelson eu havia escrito muita coisa a seu respeito, em forma de cuidadoso currículo, em longo artigo publicado no Jornal de Alagoas, edição de 14 de abril de 1974, intitulado “Cidadão Santanense de Fato e de Direito”. Ocorreu-me, então, tal iniciativa quando ele acabara de receber em 31 de março de 1974 a Comenda de Cidadão Honorário de Santana do Ipanema, outorgada pela egrégia Câmara de Vereadores da cidade.
Nesse artigo, homenageando o ilustre e novo cidadão santanense, escrevi: “A ideia dos ilustres vereadores que subscreveram o projeto de lei foi merecedora dos melhores elogios. A comenda conferida, além de medida acertada dos vereadores santanenses, honrou o ilustre cidadão, como também e principalmente honrou a própria cidade.”
Sempre privei da amizade de Dr. Adelson. Amizade mais familiar, estreita até e de forma transversal, porque sua irmã Mirzes, também minha amiga era minha concunhada.
Dedicou ele muito tempo a seu consultório, promovendo assistência odontológica a inúmeros santanenses, outro tanto tempo como diretor do Ginásio Santana e como membro efetivo do Rotary Clube da cidade. Tempo também dedicado a sua fazenda “Boi Tatá”, onde recebia amigos em festa, feijoada, abertura de silo de forragem para o gado e durante abundantes safras de caju.
Homem honrado, intelectual, bom orador, líder. Disponível para qualquer chamamento da comunidade santanense. Possuidor de livros publicados. Dedicadíssimo e exemplar pai de família. Faleceu muito moço.
Bom amigo, divertido, brincalhão. Costumava convidar-me para acompanhá-lo até sua fazenda “Boi Tatá”, alegando mostrar-me algum empreendimento ali realizado, alguma novidade. Em chegando lá, nada de especial ou do meu interesse havia, mas o convite me fora feito, na verdade, apenas para abrir cancelas para seu automóvel passar na estrada que dava acesso a sua propriedade. Com outros amigos, aprontava a mesma divertida brincadeira.
Imitando, afinal, o talentoso escritor Guimarães Rosa, diria: Adelson Isaac de Miranda não morreu. Ele deverá estar encantado.
Maceió, março de 2023.
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