Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.
Filar ou colar, no popular ou como gíria, significam observar ocultamente, espreitar, espiar, copiar clandestinamente em provas ou exames.
Trata-se, aí, de singulares exemplos de exercício de semântica que o brasileiro, sempre criativo, consegue introduzir no uso do idioma nacional, na comunicação em geral.
Assim, fila e cola, segundo mestre Aurélio, dizem a mesma coisa, assunto reservado para o final desta crônica.
Rebuscando dados importantes da história cultural de Santana do Ipanema, verifico que em 20 de julho de 1949 a cidade recebeu o diretório municipal da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos – CNEG, passo primeiro para a fundação, em 11 de fevereiro de 1950, da Sociedade Ginásio Santana, mantenedora e gestora do educandário Ginásio Santana. Sabe-se, concretamente, que tudo se realizou por obra e graça do padre Teófanes Augusto de Araújo Barros (1912-2001), emérito educador da terra das Alagoas
Com o significativo fato histórico, o céu santanense do saber e do conhecimento iluminou-se. Estava fundado o educandário para alegria dos jovens santanenses e para os das vizinhas cidades sertanejas. O Ginásio Santana, hoje Colégio Cenecista Santana, começava, assim, sua gloriosa caminhada, educando gerações e mais gerações. “Mais luz”, nas palavras de Goethe.
Quando ingressei no Ginásio Santana, aprovado no exame chamado admissão ao ginásio, em 1954, pelo educandário já havia passado a primeira turma concluinte de 1953. Minha turma seria a quinta na sua história, concluinte de 1957.
Encontrei, então, Alberto Nepomuceno Agra como diretor do colégio. Cidadão íntegro, exemplo de decência e honradez. Filho de tradicional família de Santana do Ipanema, exemplar pai de família, pontual nos seus compromissos de comerciante, de trabalho sério, de negócio limpo. Homem de palavra firme. Por onde passou deixou a marca de sua forte personalidade, com realce para os sagrados valores éticos e morais. A sociedade santanense muito lamentou seu falecimento em 2014.
Educador emérito, culto, sério, respeitado e admirado por seus alunos. De formação militar, levou para o Ginásio, durante sua gestão, a rígida disciplina que aprendera na caserna e nos campos de batalha, na Itália, na Segunda Guerra Mundial. Herói de guerra. Por muito tempo, seus ex-alunos, já na condição de pais e avôs, tratavam-no, respeitosamente, de “Seu” Alberto.
Pois bem. Voltemos aos primeiros anos de vida do Ginásio Santana, dizendo que Alberto Agra fora seu diretor no período de janeiro de 1951 a dezembro de 1955. Durante esse período, conviveu com pontuais problemas administrativos e com alunos travessos, engraçados, criativos.
O aluno José Lemos Brandão, por exemplo, também filho de tradicional família da cidade, vez por outra aprontava malfeitos em classe. Brincalhão, quase sempre era instigado por seus colegas a criar situações engraçadas em aula, ou nos seus intervalos.
Certa feita, silêncio tumular na sala, onde se realizava prova escrita de Geografia. Cada aluno, com folha dupla de papel pautado sobre a carteira, calmamente respondia às questões.
Ao birô, em frente, posicionado estava o professor Alberto Agra, atento aos movimentos dos alunos. De repente, o mestre levanta-se e depressa apanha a prova de José Lemos, com fila no meio da folha dupla. Com a prova na mão, o professor gira o corpo para observar o resto da sala. Nesse ínterim, e sem que o professor percebesse, a fila escorregou e foi ao chão, sendo logo, num passe de mágica, coberta pelo sapato do travesso aluno, que me contou esta proeza.
Pronto. Cadê a fila? Desconfiado e sem entender o que acontecera com a fila, o professor retornou ao seu birô, para concluir, sem nenhuma outra ocorrência, sua nobre missão de educador, naquela noite.
Pois é. Sem prova material não há crime...
Maceió, maio de 2018.
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