A IDOSA DO CRUZEIRO

Djalma Carvalho

Participar de cruzeiro marítimo, cujos luxuosos navios singram mares e oceanos, é o grande sonho do turista de qualquer latitude. Há pouco, participei de mais um, agora fazendo o circuito Rio de Janeiro – Buenos Aires e retornando por Montevidéu, Porto Belo e Santos, cruzeiro que teve a duração de apenas 10 dias.
Sempre reservei, em meus escritos, lugar especial para o registro de flagrantes da vida real, sobretudo de contorno pitoresco, fora do comum, engraçado ou mesmo folclórico. Nem em viagens de turismo esses flagrantes me deixam em paz, não escapando da ótica observadora do cronista provinciano.
Passados alguns dias da memorável viagem, lembrei-me agora da esperteza de uma simpática idosa que usou a cadeira de rodas para deixar para trás todos os da grande fila formada no porto do Rio de Janeiro. De repente e quase atropelados, todos tiveram que ceder seus lugares, afastando-se da trilha demarcatória, enquanto a cadeira avançava velozmente. A filha empurrava-a de forma teatral, angustiada ou em desespero. Assim rapidamente conseguiram apresentar às autoridades alfandegárias a documentação necessária para o ingresso de ambas no navio. Esclareça-se que na aludida fila havia pessoas de todas as idades, notadamente idosos.
Deixando Maceió às primeiras horas do dia 10 de fevereiro passado, o avião da TAM chegou ao aeroporto do Rio de Janeiro bem perto das 10 horas. Após o desembaraço da bagagem e logo depois enfrentando o congestionado trânsito da cidade, as vans contratadas para o transfer levaram quase duas horas para nos deixar à entrada do Píer Mauá, um grande armazém do porto, em meio ao tumulto do empurra-empurra de carrinhos lotados de malas, além do sufocante calor.
Mas, logo, logo, as coisas foram serenando, e os turistas foram encontrando poltronas para acomodar-se, enquanto aguardavam sua vez para a apresentação dos documentos exigidos para se chegar ao transatlântico ali ancorado.
Finalmente, eu e a querida Rosineide chegamos, para o desejado repouso, à confortável cabine que nos fora reservada no navio. Conforme programado e já refeito da canseira, nosso grupo, à noite do domingo, estava a postos no Sambódromo para assistir à apresentação das seis escolas de samba que abriram o grande desfile do carnaval-show do Rio de Janeiro, considerado o maior espetáculo da terra.
No dia seguinte, e já conhecendo a grandiosidade e o luxo do navio (272m de comprimento e 63m de largura; 3.000 mil passageiros e 1.050 tripulantes de 70 nacionalidades; piscinas, bares, restaurantes, pianos-bares, salões de dança, teatro, cassino, etc.), vimos o Costa Fortuna lentamente deixar a Baía da Guanabara e ganhar o Atlântico Sul em direção a Buenos Aires, para dois dias de tranquila navegação.
Pois bem. Voltando ao início desta conversa, logo à noite da segunda-feira, enquanto o transatlântico navegava serenamente, aquela simpática idosa – a da cadeira de rodas (lembram-se) – dançava ao som de música carnavalesca, de braços dados com a filha no salão Conte di Savoia do navio.
Duvido que tenha havido engano de minha parte.

Maceió, fevereiro de 2013.

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