SEU QUEIRÓS
(Clerisvaldo B. Chagas. 23 de agosto de 2010)
Estamos montados nos 102 anos de fundação da primeira banda musi-cal de Santana do Ipanema. Foi no dia 22 de novembro de 1908 que o coletor federal Manoel Vieira de Queirós presenteou Santana. Nesta data foi criada a “Filarmônica Santa Cecília” que logo passou a injetar vida nova nos talentos da terra. Para uma vila que se desenvolvia sob os olhares da avó do Cristo, faltava um empreendimento cultural de grande porte. E naquele meio rude, entre religião, comércio, agropecuária e mandacarus, começa a desfilar garbosamente a briosa de “Seu Queirós”. O maestro logo angariou respeito e fama nessa tarefa tão bonita quanto espinhosa de lidar com instrumentos e homens. Assim vão sendo convocados, sapateiros, marceneiros, comerciantes, artesãos e logo se forma um elenco de músicos sertanejos. Não demorou a que a Santa Cecília recebesse o apelido de “Carapeba”. E a Carapeba sertaneja foi animando ruas, praças, avenidas, preenchendo a alma do povo de felicidade e sonhos imediatos. Eventos políticos, cívicos, religiosos, podiam contar com aqueles caboclos que se revelavam. Com a força e a vontade no sangue, os homens iam vencendo os dias de vila e entraram triunfantes na “década do esplendor”. Santana vila tem a honra de amanhecer cidade sob a mágica batuta de Seu Queirós. Achando poucas suas atividades de coletor e maestro, Manoel ainda funda também o primeiro teatro de Santana. Mas em 2 de dezembro de 1924, faleceu o pai da música de Santana do Ipanema. A cidade emudecida provou que até hoje não soube como pagar ao maestro tanto serviço prestado a nossa terra. A Santa Cecília, contudo, não esmoreceu e continuou a sua trajetória, honrando a determinação do mestre. Mas o vigor da Filarmônica não resistiu aos obstáculos outros que barraram o seu caminho. Infelizmente, no ano de 1926, a Filarmônica Santa Cecília morreu para a sociedade.
Instrumentos musicais foram parar no museu do Município criado trinta e três anos após a extinção da banda. Com o passar dos anos, o descaso das várias administrações municipais golpearam o museu até a exaustão. Sentimos falta de inúmeras peças que desapareceram desde quando o museu foi criado na administração Hélio Cabral. Agora com regras impostas de cima sobre o zelo com o patrimônio público, pode ser que haja encorajamento para importantes doações que relutavam sempre. Disfarçadamente vamos procurando uma ho-menagem póstuma a Seu Queirós e não vamos encontrando. Mesmo assim vale a pena lembrar aos jovens estudiosos da “Rainha do Sertão”, que existiu um homem que teve a coragem de fundar uma filarmônica. Uma filarmônica em um tempo em que a música valorizada era apenas a de pé-de-bode, tambaque e aboio de vaqueiro. Coletor federal, herói santanense, pioneiro da música e do teatro foi SEU QUEIRÓS.
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