Uma fé de show

Augusto Ferreira

Esta semana visitei duas Igrejas. Uma evangélica e outra católica. O objetivo da visita era analisar o fenômeno religioso. A prática de fé de ambas se baseia no pentecostalismo. Vale lembrar que na Igreja Católica, com a renovação carismática, a linha pentecostalista ganhou forças, sobretudo na década de 90. Nessa mesma época explode os show-missas e os padres cantores. A visita foi dirigida pelo nosso professor de Antropologia Teológica.

Em uma noite de quinta-feira, fria, sem janta, trânsito congestionado em São Paulo segue para o bairro Santo Amaro um grupo de 35 estudantes de Teologia. No grupo não havia simpatizantes da corrente pentecostal. Fomos como cientistas. Ao chegar ao destino muita curiosidade. Queríamos ver o ambiente e as pessoas.

Primeiro impacto foi o centro comercial que encontramos ao redor do “barracão”, onde acontece o show-missa. Demos uma volta e logo nos dirigimos ao local da missa. Dezenas de milhares de pessoas lotavam o “barracão”. Ficamos do lado de fora observando até uma agulha que caísse.

Domingo três horas da tarde. O mesmo grupo vai à Igreja evangélica no baixo Glicério, em São Paulo. Temperatura agradável, sem trânsito. De longe avistamos uma construção monstruosa. Era o nosso destino. Bairro pobre, mas em desenvolvimento, pois passa por ali dezenas de milhares de evangélicos. Aliás, a cada esquina pode-se observar livrarias e lojas que tem os evangélicos como alvo.

As palmas e os gritos de “aleluia e glórias a Deus” acompanhavam o canto popular entre os evangélicos: “foi na cruz, foi na cruz”. Após o canto entra um homem de terno preto, barba bem feita e de uma retórica impecável, talvez sua retórica só perdesse para a do romano Cícero.

Iniciou a pregação convidando os que desejavam receber uma benção e ser urgido com o óleo santo. Lá vai nós se juntar as centenas de pessoas que queriam a tal benção. Mais de vinte minutos de conversar até aplicar o primeiro golpe. Perguntou quem poderia ajudar a igreja com 200 reais. Um, dois, três levantaram a mão. Depois de mais uns vinte minutos segundo golpe. Quem poderia ajudar a igreja com 100 reais. Essa história se repetiu até chegar ao valor mínimo de 2 reais.

O momento mais esperado do culto é a entrada do missionário fundador que aparece em uma cabine blindada com todo conforto e tecnologia para ele usufruir, enquanto que os fiéis sofrem no calor. Pedido por dinheiro permeia todo o culto.

Saímos dos dois atos religiosos com uma sensação de que precisamos fazer mais pelo Reino de Deus. Enganar, explorar e manipular são verbos que não fazem parte do projeto de libertação. Compreendemos que os fiéis que vão a este tipo de ato são pessoas que precisam de uma palavra e de uma satisfação imediata. Com isso nos perguntamos, como apresentar o Deus do Egito, que libertou os escravos e que estava ao lado dos excluídos e necessitados a esse povo?

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