Realidade triste

Augusto Ferreira

Quem estuda conta os dias para as merecidas férias. Descansar, passear, visitar os velhos amigos é programa indispensável nas férias. Descansar fisicamente! Por que na situação política em que o Brasil está, é impossível que o espírito consiga ter sossego.

Esses dias conversei com um taxista, aqui em Belo Horizonte, fiquei surpreso com o que ele relatava. Iniciamos falando de educação e emprego. Contou-me que não adiantava estudar. Testemunhou a história de uma prima que tem curso superior, fala três idiomas, mas que ganha muito menos do que ele como taxista.

Eu estava gostando da conversa. Sempre que o papo tende para esse lado fico entusiasmado. Até então ele não sabia que eu era jornalista. Em um dado momento da conversa falei da minha profissão. Ele curioso pergunto o quanto eu ganhava. Respondi-lhe! Como sou um defensor da educação tentei apresentar as vantagens em estudar.

Iniciei meu argumento falando da busca de sentido para interpretar a realidade e encontrar-se como ser humano. Falei que dinheiro não é tudo, mas como sou da linha filosófica realista, completei que o dinheiro é um meio, mas não é um fim. O assunto estava bom. Ele continuava sustentando o argumento que estudar não é necessário.

Fui para o segundo argumento. Apresentei a ele a situação crítica que passa o país na política. Começou a concordar. Para segurar meu argumento disse-lhe que estamos nesta situação porque os políticos nunca, na história do Brasil, investiram em educação de qualidade. Sempre quiseram uma população analfabeta, visando os próprios interesses. Parece que convenci.

O espírito humano não pode descansar nem mesmo nas férias. Não podemos concordar com as injustiças, as impunidades e a falta de ética que se aflora a cada dia no nosso país. Mas o taxista tinha razão em alguns pontos do seu argumento. Assim como ele há muitos, que não acreditam na educação como meio de conscientização e que pensam no estudo somente como meio de conseguir dinheiro. Para esses é possível tirar férias, inclusive o espírito humano.

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