Cidadão responsável

Augusto Ferreira

Aproveitei as férias para ler, estudar informalmente e viajar. Fui a São Paulo. Nas férias de Julho sempre vou a São Paulo. O trajeto para chegar à maior cidade do país e encontrar a família em Santo André é longo e cansativo. Pego ônibus, metrô, trem e mais um ônibus! Neste percurso observo cada movimento, há quem diga que isso é uma característica dos jornalistas.

A viajem segue. Tiro meu celular do bolso e olho a hora. Quase 14hs. Saio do ônibus e vou ao metrô. Estou na estação mais badalada, Estação Sé. È uma correria. Uns sobem no metrô outros descem. Uns são empurrados, outros ficam “estátuas”. Eu consigo entrar. A primeira coisa que faço é observar quem está no mesmo vagão que ocupo.

Dou uma olhada de 360º. Percebo que há muita gente com rosto cansado. Olho para o fundo do vagão e vejo umas cinco pessoas lendo. Não sei o que liam, mas confesso que fiquei curioso para saber. Até o metrô tudo normal. Tirando a correria e o cansaço dos paulistas e paulistanos.

Mais um momento de transtorno. Embarcar no trem. A correria continua. Ninguém sabe se o trem está para chegar ou se já está parado. Pela correria imaginei que fosse o último trem que passaria naquele dia. Mas não era. O último trem passa às 24hs, e ainda eram 14hs e 45min.

No trem havia de tudo. Vendedores de doces, pai de família pedindo ajuda para comprar leite para o filho e até dupla cantando emboladas. Porém o que chamou a atenção foram os comentários sobre política e sobre a facção criminal que ataca em São Paulo. Lembro-me de uma frase: “Olha saio de casa, mas não sei se volto. Os traficantes não querem saber se você é de bem ou não, se trabalha, se tem filhos para criar. Eles tão mandando é bomba pra qualquer um”.

Sobre política conversavam dois jovens, que aparentavam ter uns 18 anos. Discutiam se o presidente Lula iria se reeleger. Um dizia que Lula tem o voto dele garantido. O argumento que ele usou: “Hoje eu estou na Universidade graças ao Lula. Entrei pelo Prouni. Lula é o presidente que se preocupa com os pobres. Qual foi o presidente que criou projetos sócio-educativos para os jovens?”, indagou o estudante.

Neste trajeto que fiz até chegar à casa da minha irmã a mente não parou de “funcionar”. As conversas, os vendedores de doces, os pais pedindo ajuda para alimentar os filhos me inquietaram. Minhas observações me remeteram a refletir sobre o papel de cada cidadão. Me perguntei: o que eu posso fazer para mudar o quadro sócio-político deste país?

As eleições estão chegando. Escolher bem os nossos representantes no Estado e no Planalto é a primeira de muitas outras atitudes que podemos tomar. È irresponsabilidade do cidadão se submeter a situações ridículas como vender o voto, ignorar o passado político de um candidato e etc. Creio que as discussões sobre a situação do país devem ultrapassar os vagões de trens. E consequentemente situações dolorosas como aquelas que vi no trem de pais pedindo ajuda para comprar leite, outros pedindo esmolas, a longo prazo diminuirão. A responsabilidade é nossa.

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