NINHOS URBANOS
Antonio Machado
Ver o sertão com suas peculiaridades é próprio de bem poucos, porém a sensibilidade artística da artista plástica, Maria Amélia Vieira, foi além do convencional, mormente quando ela na beira das estradas, começou a vislumbrar os ninhos das aves, aflorando-lhe talvez, a lembrança da casa paterna, berço onde se aprende as primeiras lições para a vida, como também escreveu o vate Olavo Bilac: “aqui deveis entrar como num templo/com a alma pura e o coração sem susto,/aqui aprendeis, da vida um exemplo,/aqui aprendeis a ser amigo e justo”.Essa artista do hodierno, dentro de sua sensibilidade feminina, viu a beleza da vida nos ninhos, bem o mal feitos, pela genialidade das aves, um trabalho singular e bem organizado. O imortal José Américo de Almeida, escreveu na Bagaceira: “criei um passarinho/ no quente do coração,/quando cresceu, foi embora,/ não quis saber do ninho, não”, assim são as aves, assim somos nós também, entretanto, nós carregamos as lembranças da casa paterna, enquanto Raimundo Correia, diz que as pombas voltam aos seus pombais, enquanto nossos sonhos se vão, e não voltam mais.
Visitei sem pressa a exposição Ninhos urbanos da genial Maria Amélia, achei fantástica a ideia, mas esperava mais, visto o nome dessa artista plástica, que não teve a coragem de entrar na caatinga, trazer o ninho do algodão e garranchos do Bem-te-vi, escrevi um poema homenageando essa ave tão simples e tão bela: “eu nasci longe daqui,/ lá no sítio Gameleiro/ nas floradas dos Pereiros/ nos ninhos dos Bem-te-vis/ no voou dos Colibris/ no canto triste, da Fogo pagou/ como quem não foi feliz,/ na escolha de seu amor/ quando eu morrer/ me enterrem aqui,/ para quando a tarde chegar/ de novo poder escutar/ o canto dos Bem-te-vis”. E o ninho da Casaca de couro, talvez o maior dos ninhos das aves sertanejas, feito de gravetos por um pássaro tão pequeno, e o ninho das Lavandeiras, só de algodão, mas à senhora trouxe a sutileza e a maciez do ninho do Beija-flor, muitas vezes, feitos nos pés de urtiga, mas faltou a casa do João de Barro, vou lhe dar uma de presente. “O Xexéu de bananeira/ fez o seu ninho na calha da palmeira/ depois convidou a companheira para ali viverem juntinhos”(Colly Flores). À senhora preferiu clicar a distância, fotografando esses ninhos raros, a ir tirá-los in loco, haja vista a paisagem densa do sertão com seus cactos e rasga beiço, onde muitas vezes, esconde belezas raras. A parede de taipa não fugiu ao seu olhar clinico de pesquisadora, que enriqueceu com um belo trabalho bem modelado de cerâmica, que enche os olhos dos visitantes. Ninhos urbanos é uma volta ao passado, como escreveu Amélia Filha no folder alusivo a exposição, dizendo que é por onde trafegam os sentidos, como a parodiar Gaston Bacherlard, dizendo que são imagens primordiais. O imortal Victor Ugo, escreveu: “o homem está colocado onde termina a terra, e a mulher onde começa o céu”. Você, Amélia, é uma dessas mulheres que a natureza, pensou antes de lhe fazer.
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