FACHEIRO, CANDELABRO DO SERTÃO

Antonio Machado

Segundo consta no livro dos Gêneses, as árvores foram criadas no segundo dia da criação, dada sua importância na face da terra, sendo elas anteriores ao homem, porque ele necessita delas para sua sobrevivência, tanto para sua alimentação, como sombra, madeira para construções e flores para enfeitar a vida, tornando-a mais amena. O Nordeste esta área de terra correspondente a nove estados da federação, onde está inserido o sertão com sua seca e suas manhas que assustam os sertanejos, e em meio a caatinga ora densa, ora rala os arbustos se multiplicam nesse contexto tão árido e tão seco, e nessa variedade de plantas e xerófilos, surge a figura lendária e exóticas do facheiro, planta da família das cactáceas, das terras secas de altura mediana com raízes rasas, que cresce fazendo de seus galhos verdadeiros candelabros do sertão, dentro de uma ordenação interessante e bonita, o facheiro é resistente as grandes secas que se abatem sobre o solo nordestino, mormente o sertão. Alagoas já foi celeiro de grandes partido dessa planta de flores avermelhadas, que produz um fruto apreciável aos pássaros, sobretudo os sábias e sanhaçus, porém não é comestível pelo homem, a sua floração só se dá uma vez por ano, notadamente nas trovoadas, sua espécie se assemelha ao mandacaru, sendo sua hástea mais fina, e de consistência mais frágil, não resistindo aos grandes ventos. No passado o facheiro era usado em formas de ripas para madeiramento de casas, visto sua durabilidade ao tempo. As grandes queimadas desordenadas dos cerrados e até reservas florestais, vem acabando com o facheiro, o candelabro do sertão, o que é uma pena. Ainda existem alguns exemplares dessa planta que emoldura as franjas das serras do sertão, porém tende a desaparecer, como modesto observador dos fenômenos cíclicos da natureza e da ação depredadora do homem, vejo que esta planta outrora em grande quantidade no sertão, hoje está desaparecendo sem que nenhuma mobilização seja feita para preservação e conservação. Foi num passado não muito distante, o facheiro muito usado pelos moradores sertanejos, mormente na cobertura das casas, em vista de sua durabilidade, chegando a atingir meio século em perfeito estado, porém a modernidade suplantou tudo isto e as ripas cerradas, tomaram-lhe o lugar, e hoje o facheiro é queimado pela ação depredadora do homem, os últimos exemplares restantes, outrora essa árvores dos cactos cresciam ao longo das estradas e se destacavam em meio ao cerrado e a caatinga sertaneja, com seus galhos espinhentos, formando verdadeiros candelabros na paisagem desigual, diferenciando dos mandacarus e alastrados tão comuns no sertão. Raros são aqueles que registram esses fatos para a posteridade, e os que vierem após, conheçam esse passado brilhante, não deixando morrer o facheiro sem socorro. O poeta Colly Flores, mesmo com pouco estudo, vem fazendo modestamente, seus registros dos fenômenos e depredações ocorridas na natureza, notadamente na área sertaneja, e para tanto, escreveu esta décima, que dado seu valor sociológico, resolvi inseri-la neste artigo. “Os facheiros são dizimadas/ pela ação do próprio homem,/ com suas grandes queimadas,/ que tudo mata e consome,/ até mesmo o seu nome,/ pelo povo é esquecido,/ algum poeta atrevido/ tende a história registrar/ mas a seca vem matar,/ o facheiro, hoje esquecido”. Este é pois, um lamento sem eco, porém brotado de quem sente a tristeza da perda, como lampejo de quem viveu a história fazendo parte dela.

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