CONVIVÊNCIA COM A SECA

Antonio Machado

CONVIVÊNCIA COM A SECA

Antonio Machado

O sertão tem sido tema de inúmeras reportagens com substanciosos assuntos, visto estar centrada no polígono da seca, tenho escrito acalentadas crônicas e artigos focando a região sertaneja, notadamente o sertão de Alagoas, e este noticioso tem sido um elo entre o sertão e a capital, onde ficam os poderes maiores, que carecem ser alertados, para melhor se direcionarem nas tomadas de posição nas ações de 8.633 Km2, com uma historia de secas tenebrosas, dentre outras, citamos 1930, 1932, 1927, 1945, 1956, 1970, 2003 e 2012, este leque de anos secos, deixaram rastros que o tempo não apagou, gerando com isto a chaga do êxodo rural, desagregando as famílias de seus habitates, porque o sertanejo é tangido de seu torrão natal, é como o maracujá se lhe arranca o bulbo, toda ramagem fenece. Conta-se que, certo prelado, tendo que fazer uma visita adlinea(visita ao papa), encomendou um quadro a certo pintor, para o levar de presente a Sua Santidade. Dias depois, qual não foi sua surpresa, ao receber a encomenda, pois simplesmente, constava de uma família de retirantes fugindo da seca, e junto àquela família, ia também Jesus Cristo de mala e cuia, e o historiador fecha o caso, citando que o papa, ficou extremamente agradecido com o presente.
Sabe-se, entretanto que, as secas sempre existiram ao longo da história,onde o povo é quem mais sofre com essas prolongadas estiagens. A Sudene nos tempos áureos de seus bem vividos quarenta anos, sempre esteve presente nesses momentos de agruras do sertanejo e sua família, criava frentes de serviços, enviava cestas básicas, construía estradas vicinais e até rodagens, quando o asfalto ainda estava distante do homem sertanejo,as chamadas frentes de emergências, a famosa indústria da seca, que enriqueceu muitos políticos em toda essa odisseia. Porém hoje tem os ministérios do interior, da integração, as cisternas de plásticos, a bolsa contra seca, bagaço de cana, carro pipa, a bolsa safra frustrada e até a “bolsinha carinhosa”. Tudo isto nunca vai resolver o problema das grandes secas sertanejas, onde quem paga tudo é o sertanejo, porque a vontade política é menor do que o problema do sertanejo, haja vista a seca ser um fenômeno da natureza.
Uma das soluções para o caso em tela seria se criar projetos de convivência com a seca, para evitar o êxodo rural, engrossando os bolsões das cidades grandes, pequenas ajudas apenas minimizam os problemas, porém não resolve projetos voltados para o local onde vive e convive o homem do campo, somente água encanada cara e energia elétrica não resolvem, porque quem vive de água é peixe, e de energia é fabrica. Precisa-se de alimento de qualidade, escola boa, onde o homem aprenda a construir seu futuro onde está, mas com a barriga cheia e sem doenças que o afliga. Um pequeno exemplo: o sujeito está doente da próstata, vai ao postinho de sua comunidade, o clinico geral o encaminha a um especialista, leva três a quatro meses para ser atendido, aí se marca a possível cirurgia, às vezes, quando chega a vez dele, já está instalado um câncer, e o resto só Deus sabe...
Apregoa-se em alto e bom som que, o propalado canal do sertão vai ser a redenção do sertanejo, eu me questiono muito nisso, até hoje, nem sequer saiu uma lista dos municípios que serão agraciados com esse canal, e também a puxam um fio de água para outros estados do Nordeste, e segue por aí o rosário de amargura, e enquanto isto o pobre rio São Francisco, agoniza em seu leito, em sua calha, porque ele está carecendo é de uma revitalização, para criar novo alento, caso contrario, nós sertanejos nordestinos, vamos pagar um preço alto, porque água é vida, mas ninguém vive só de beber água. O poeta Colly Flores, dentro de seus parcos conhecimentos escreveu: “o rio São Francisco é o espinhaço do Nordeste, e esse espinhaço está com a medula comprometida”.

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