CHUVA MIÚDA NO SERTÃO

Antonio Machado

CHUVA MIÚDA NO SERTÃO
Antonio Machado

O talento está inerente ao homem como o perfume a flor, parece indissociável, talento não se impõe, é dom que já se nasce com ele, herda-se até, a exemplo do cronista Dr. Djalma de Melo Carvalho, que teve a primazia de trazer de seus ancestrais a obcessão pelas letras. Nascido no hinterland do sertão de Alagoas, ouvindo o canto triste do Fogo-pagou e o respingar da chuva miúda no telhado, provocando a cheia no riacho Gravatá, com tanta incidência, que lhe marcaram sua existência já longeva, armazenando em sua memória os fatos alegres e tristes, que já lhe rendeu cerca de nove obras em livros escritos e publicados, focando sempre quase o mesmo tema, a chuva no sertão suas graças e efeitos, nos sertanejo ora forte, ora pouca e miúda. Tonar-se-ia mais tarde, Dr. Djalma Melo Carvalho, funcionário do Banco do Brasil e primoroso cronista, mormente de sua vetusta Santana do Ipanema. Com uma dedicatória bonita, recebi o último exemplar escrito pelo cronista Djalma, intitulado Chuva miúda no sertão, onde o autor coloca seu talento vivo, nas 164 páginas no feitio de suas crônicas, com a pincelada de bons cronistas, a exemplo de Medeiros Neto, Bezerra e Silva, Félix Lima Junior, Aldo Flores que emolduraram a crônica do passado, e os de hoje como Jair Pimentel, Clerisvaldo B. Chagas, este modesto escriba, Dr. Laurentino Veiga e tantos outros, que no dia a dia, estão nos jornais mostrando aos leitores seus trabalhos literários eivados dos mais variados assuntos. Mesmo vivendo em ambientes altos e refinados que a vida lhe tem proporcionado, saindo das águas salobras e escassas do rio Gravatá, para os palcos das noitadas de tango em Buenos Aires, ao lado de sua “new love”, o cronista jamais esqueceu sua terra natal, estando ligado a ela hipostaticamente, como a sentir o cheiro que evola da terra molhada, quando dos pingos miúdos da chuva transforma-se em belas trovoadas, no arremesso do trovão, mostrando ao sertanejo a grandeza de Deus. Todos esses lampejos da adolescência, materializa-se em suas deliciosas crônicas, que via de regra são publicadas esparsamente nos jornais da Província, e no final, o autor as reúne enfeixando num livro e premia os amigos e leitores, numa movimentada noite de autógrafos. Esse resgate do passado que Djalma, sabiamente faz, com suas crônicas, é muito importante para o futuro da história, como escreveu Henri Lacordaire: (1802-1861), “entre o passado, onde estão nossas lembranças, e o futuro, onde estão nossas esperanças estão nossos deveres”. Percebe-se nas crônicas de Djalma, que ele está melhor do que nas anteriores, constituindo-se um mestre nessa arte, como já disse acertadamente um grande mestre: “a crônica é antes de tudo, Literatura, e reflete fatos do cotidiano, como gotas de chuva num dia de sol quente. Reflexão e crítica que fazem pensar”. Ler as crônicas de Djalma é sentir o sabor do sertão em cada período, como escreveu Prado Kelly: “um livro de crônicas tem sobre os demais, a vantagem de explicar-se como o espelho do tempo”.

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