Antonio Machado
A cultura popular emana do meio do povo de uma maneira inusitada, e vai se aspergindo como a semente do algodão seda, ao sabor do vento, e se disseminando e formando conceitos, cirando díteros populares, inserindo-se no meio do povo, tornando-se em linguagem coloquial e correntia no meio do povo, levando muitas vezes, os eruditos, a se questionarem, porque o conhecimento dos intectuais não vem somente dos livros, mas sobretudo da “sabença” do povo. É nesse contexto que emerge no meio da sociedade popular, a figura lendária de Sinésio Santos, teatrólogo, sem as luzes da ribalta, mas iluminado com a luz opaca dos candeeiros, e os poucos aplausos de pequenas platéias, incursionou também, Sinésio, pelo campo da poesia, e recentemente lançou numa noite de autógrafos, sem público, seu mais novo livro, Canfundó do Juda, um livro meio doido onde o autor mistura prosa sem metáforas e versos sem métricas, num enredo onde a tragédia faz parte obsessiva de uma família, tal qual os personagens de Vidas secas, de Graciliano Ramos. A ficção na narrativa de Sinésio Santos em Canfundó do Juda é uma constante, o autor envereda por toda a história no campo da criatividade, ora em prosa, ora em verso, e deles até meio jocosos. A obra Cafundó do Juda, faz parte de vários livros escritos pelo autor. Nascido nas plagas de Coruripe, passando pelos manguezais de Maceió, e vindo cair no sertão das Alagoas, nos arrabaldes de Olho d ‘Água das Flores, onde vive com sua mulher, sendo ele já de segunda mão, segundo casamento, encontrou em Maria Cipriano, a pessoa ideal para viver, e juntos criaram raízes e estão fincados nesse pedaço de chão seco da gota serena. Trouxe, pois, Sinésio, o dom da poesia, não a poesia erudita, mas a rima cheia de graça, a exemplo do inimitável Zé da Luz. Para Sinésio, a estética, a métrica e outras regras da poesia não têm muita importância, porque ele escreve para o povão, e as críticas não lhe importam. Escreveu o poeta Colly Flores que: “quem não aceita as criticas, não é digno dos elogios que recebe”. No Cafundó em poesia, veja o que disse o autor: “onde o vento faz a curva/ e o diabo me acuda/ to perdido nesse inferno/ sozinho sem ajuda/ inté minhas botas eu perdi/ nesse cafundó do Juda”. Veja prezado leitor, a discrepância da sextilha seguinte: “nesse meu cafundó/ onde vivo tão só/ é de fazer dó/ onde seca inté o gogó/ nós sofre que nem Jó/ onde não existe só” (do livro sem numeração nas páginas pesquisadas). E segue por ai, os escritos de Cafundó do Juda, num trabalho sem muita sequência lógica, porém sem deixar de ser interessante, porque esse é o talento de Sinésio Santos, e certamente vai vender muito e ser comentado nas casas, nas praças, enfim, é um livro para o povão.
Comentários