As verdadeiras vozes estão via de regra, sendo dizimadas pela ação devastadora da morte com seu desejo de ceifar vidas sem dó e exceção, e nesse rol, levou uma das mais preciosas vozes que o Brasil conheceu, refiro-me a Abelim Maria da Cunha, artisticamente Ângela Maria, nascida em 1929, em Macaé, Rio de Janeiro, filha de um casal de protestantes que se opunha veementemente em ter uma filha cantora, artista do rádio e consequentemente da televisão. Iniciou sua carreira artística no coral das igrejas protestantes, sendo o seu pai pastor, dai para o rádio foi um pulo mesmo às escondidas. Trabalhando em casas de família, vezes por outra era surpreendida pelos patrões, que se escondiam às vezes, para se deleitarem com sua maviosa voz, pois era possuidora de uma voz maravilhosa cheia de encantos dentro de uma performance a toda prova, possuía uma garganta privilegiada. Pontificava na época os famosos do rádio, e as ondas levavam para o país as belas vozes de Arací Cortes, Carmen Miranda, Dircinha Batista, Linda Batista, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira e nesse time de ouro, insere-se a inimitável Ângela Maria, cantando e encantando as plateias, lotando os auditórios, mormente na década de 1950, quando a televisão ainda estava nascendo.
A imposição intransigente de seus pais, sempre lhe era amarga, mas difícil era renunciar uma vocação tão bonita quanto bela como ser artista e artista do povo, porque sua voz encantava a todos. Numa das minhas viagens ao Paraná tive a sublime alegria de assistir a um show com Ângela Maria na cidade de Maringá. O auditório enorme lotou por completo, todos queriam ver, ouvir e aplaudir a gigantesca voz da Saputi, apelido dado pelo presidente da República Getúlio Dornelles Vargas, cuja alcunha outorgada ela ostentava com orgulho em seus belos shows.
O auditório aplaudiu aquela voz magnífica todo de pé numa delirante comoção. Ângela Maria se apresentava nas rádios Mayrink Veiga e Nacional, sempre com auditórios lotados para ouvir os boleros chorosos que se enquadravam adredemente nos namoros e casamentos fracassados, quem não deixou dos olhos cair uma lágrima furtiva ouvindo Cinderela de Adelino Moreira e Tango para Tereza de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, quem não chorou ouvindo Mamãe na voz de Ângela Maria, numa composição inolvidável de David Nasser e Herivelton Martins.
Os anos passaram, novos cantores iam surgindo, mas a voz de Ângela continuava impecável e a natureza lhe dera uma vida longeva de 89 anos para melhor mostrar seu potencial artístico, cantou 70 anos, lançou mais de 114 discos, foi a eterna Rainha do Rádio, por sua voz bela e encantadora.
Hoje Ângela está cantando ao lado de seu amigo Caubi Peixoto, suas colegas do rádio, ao lado do inconfundível Nelson Gonçalves, mas, chegou ao fim no dia 29 de setembro de 2018, como todo mortal, mas deixou seu nome, sua voz impressa com letra de ouro em todo o Brasil. Ângela, quem gostava de você nunca vai lhe esquecer.
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