Há dois dias, assisti ao polêmico e irreverente "A primeira tentação de Cristo", do grupo humorístico Portal dos Fundos. É uma ironia. Símile àquelas dos anos setenta e oitenta feitas pelo grupo inglês Monty Python, mas esteticamente, claro, inferior. É uma crítica aos dogmáticos e aos preconceituosos. A arte serve para isso, de algum modo.
Os que se incomodam não se incomodam de assumir o papel, por exemplo, de inquisidores, prontos para jogar qualquer um numa fogueira ou numa masmorra. Os que tanto se incomodam são os mesmos capazes de adentrar numa editora e atirar friamente em cartunistas. São os mesmos capazes de jogar bombas em sede de jornais. São os mesmos que festejam a queima de livros.
Os que se incomodam são os mesmos que queriam jogar nas chamas Galileu e que conseguiram, em nome de uma fé cega e irracional, assassinar milhares de seres humanos. São os mesmos que ameaçam e assassinam jornalistas. São os mesmos que prendem e torturam artistas.
Como bem disse Immanuel Kant, "nossa era é a verdadeira era da crítica, a qual deve submeter-se tudo. A religião, por sua santidade, e a legislação, por sua majestade, geralmente buscam esquivar-se dela. Mas então suscitam justas suspeitas contra ambas e não podem reivindicar um respeito autêntico, que a razão concede apenas aos que se submetem a seu exame público e livre". Liberdade sempre em relação à arte.
Adriano Nunes
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