As solicitações de exames por iniciativa própria dos pacientes é uma prática enraizada e desproporcional, venho observando ao longo dos anos como este fato se repete. Mais constrangedor é, para quem consegue ter este sentimento, que o resultado em sua grande maioria é normal ou com problemas que já poderiam estar diagnosticado pelo médico, por meio da inspeção e história clínica, e se já estivessem sendo tratados - ao invés de estarem esperando até fazer, receber, mostrar ao médico e por fim o medicamento efetivamente chegar a sua mão para inicio do tratamento ? poderiam está em condição de saúde bem melhor.
O tempo que normalmente se perde entre o diagnóstico e o inicio efetivo do tratamento é muito grande. Esta sequencia pode demorar até mais de um mês porque na maioria das vezes o paciente entende e exige que só um ?hemograma completo e um raio-X? poderá resolver o problema na maioria das vezes foi criado pela sua fértil imaginação. Esta dobradinha deve ser muito poderosa, pois a impostação da voz até muda quando ouvimos o que devemos colocar na solicitação do exame.
Há uns dias atrás atendi uma criatura que havia visto há quarenta e cinco dias atrás com um quadro clínico muito evidente de uma fratura no pé, já havia até esquecido quando ela então me apresenta a radiografia que definitivamente sancionava a suspeita. Olha só: o raio-X foi realizado a paciente foi orientada a voltar para casa até esperar o resultado, não foi imobilizada por que o ?seu? médico tinha que ver antes, então o ?seu? médico 45 dias após com a fratura em fase adiantada de consolidação contempla o tal exame. Fica constatada a economia de uma folha de receituário pra escrever a solicitação de imobilização gessada e uma imobilização gessada em detrimento de um tratamento inadequado com prejuízo final para o usuário que teve sua fratura tratada de maneira muito prejudicada.
Outro problema que faz parte do pacote.
Quem é o médico sou eu, o individuo que teoricamente foi treinado para executar aquela função, certo. Não, errado.
Sem perguntar quem é o pai da criança, esta inversão de função é muito prejudicial do ponto de vista da saúde pública e da qualidade de vida.
As causas das doenças são muito evitáveis e as pessoas não se percebem que sem as medidas de prevenção elas passam muito mais tempo doentes quando poderiam estar gozado de saúde bem melhor, parece óbvio, mas para quem milita no dia a dia da saúde pública sabe que não é tão exequível.
A mãe leva a criança ao posto de saúde e relata que as fezes da criança sempre estão saído com ?morróia? (verme) e ela quer pedir um exame para saber se tem algum problema.!
Nem o exame, nem a medicação vão resolver se a mesma mãe não colocar em prática a prevenção. Ter água de qualidade e saber como usar.
Quem trabalha comigo já ouviu falar da ?sangria desatada para fazer um exame?.
Torna-se um hábito ser doente que vai sendo passado por longos períodos de geração em geração quando constatamos que as crianças são parecidas com seus familiares de mais idade, no aspecto físico obviamente que sim, porém quero me referir ao aspecto de nutrição e cognição. Crianças que não tem alimentação adequada e ordenada junto com o estímulo ao desenvolvimento da leitura e interpretação, não podem ser adultos e idosos saudáveis. Eles sempre serão doentes.
É muito dinheiro jogado fora com esta quantidade de exames realizados sem necessidade, acrescidos do dinheiro que envolve o transporte que em sua maioria é público também. O pior no meu ponto de vista é o fato de quem está fazendo está retirando a oportunidade de quem pode realmente está precisando.
É uma gota de problemas num mar formado por eles mesmos. O desafio é fazer entender e praticar em beneficio próprio.
RACOSE MARQUES OLIVEIRA
Médico
Outubro 2009
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