CONTEXTUALIZAÇÃO E MEMÓRIA DO CINEMA SANTANENSE

Outras Peças Literárias

João Neto Félix Mendes

Cine Alvorada

Os santanenses sempre tiveram predileção pelo cinema, embora, há décadas, não se tenha nenhuma sala de exibição comercial. No formato de linha do tempo apresentamos a diversa história do cinema no sertão alagoano. Destacamos que nos anos sessenta a cidade tinha dois cinemas em atividade: Cine Alvorada; na Praça Manoel Rodrigues da Rocha, Centro e o Cine Wanger; na Rua Pedro Brandão, Camoxinga. Palco de dois longas metragens premiados e vários documentários, a tradição cinematográfica é enaltecida como uma das marcas culturais do povo sertanejo. Exibições eventuais acontecem nas vias públicas, por iniciativas particulares, ou de projetos itinerantes, tais como: Projeto Cine Sesi Cultural e Projeto Viva Linda, do Boticário.

1890. Thomas Edison projeta diversos filmes de seu estúdio, aos quais se encontra “Black Maria”, considerado o primeiro filme da história do cinema. É a partir do aperfeiçoamento do Cinetoscópio, que o Cinematógrafo é criado pelos irmãos Louis e Auguste Lumière, na França, em 1895. Captar e reproduzir imagens em movimento.

1895. Criação do cinema pelos franceses, Irmãos Lumière. Família de empresários do ramo de material fotográfico.

1912. A expressão “Sétima Arte” foi criada pelo italiano Ricciotto Canuto. Ele percebeu que o cinema traria uma revolução cultural ao século XX, uma vez que em si mesmo, reunia as outras seis artes já conhecidas: dança, teatro, música, literatura, pintura e a escultura.

1947. Fundação do Cine Ipanema, pelo Sr. Zé Francisco, localizado no 1º andar do sobrado do meio da rua.

1953. Cine Glória. Proprietários Domingos Benevides e Napoleão, protético que morou muitos anos em Santana. Depois, o cinema foi adquirido pelo Sr. Tibúrcio Soares. Provavelmente o primeiro filme exibido foi “O Príncipe e o Mendigo”.

1954. Cine Glória localizado à Rua Cel. Lucena, passou por reforma e funcionou, provisoriamente, à Rua N. Sra. De Fátima, defronte ao atual prédio do Restaurante Xokant’s. No local do antigo cinema, atualmente funciona loja comercial “A Insinuante”. Cinema foi vendido ao Sr. Tibúrcio Soares.

1960. Construção do Cine Alvorada pelo Sr. Tibúrcio Soares, idêntico ao Cine Albatroz existente em Recife, no bairro Casa Amarela. Localizado à Praça Manoel Rodrigues da Rocha. Foi vendido ao empresário e ex-prefeito Paulo Ferreira de Andrade. Foi igreja evangélica e atualmente funciona loja comercial Santana Center.

Imagem Interna do Cine Alvorada



1960. Construção do Cine Wanger, de Walter Rodrigues do Amaral (Walter de Marinheiro), localizado à rua Pedro Brandão, no Bairro Camoxinga. Empreendimento concorrente do Cine Alvorada. Programação erótica e pornô.
1960. Santanense, Nestor Noya (*1940+2016), influenciado por seu Pai, Darras Noya, apaixonado por fotografia, iniciou Faculdade de Cinema em Brasília, mas não chegou a concluir. Ditadura fechou a Universidade e vários estudantes foram expulsos do País, inclusive Nestor Noya.

1961. Demolição do Prédio do meio da Rua, na gestão do Prefeito Ulisses Silva, além das lojas que funcionavam no térreo, no primeiro andar foi local de ensaio da Filarmônica Santa Cecília, do teatro santanense e de projeções do Cine Ipanema.

1970. “A Volta Pela Estrada da Violência”. Primeiro longa-metragem produzido em Alagoas. Marco do cinema alagoano. Apoio do Prefeito Adeildo Nepomuceno Marques e do empresário Paulo Ferreira de Andrade. Produção da Caetés Filmes do Brasil. Produção Jose Wanderley Lopes, Direção Adnor Pitanga.

Prêmio Coruja de Ouro (1971) do Instituto Nacional de Cinema (INC) de melhor fotografia em preto e branco. A Cinemateca Brasileira não possui este filme, mas dispõe informações sobre ele.

SINOPSE: Após a morte do marido, Geracina e seus três filhos dependem apenas de um cavalo como fonte de sustento. Com a seca que assola a região, o fazendeiro manda fechar a única fonte de água das redondezas. Ao tentar violar a cacimba para dar água ao cavalo, o filho mais velho é assassinado. A viúva apela para a Justiça, mas o juiz, comprado pelo fazendeiro, absolve-o. Mãe e filho abandonam a região e quando o filho caçula, atinge a maioridade, a mãe incita-o contra o fazendeiro para vingar a morte do irmão.

FICHA TÉCNICA. Direção e roteiro: Aécio de Andrade. Direção de fotografia e câmera: José de Almeida.  Direção de produção: Arnaldo Bastos Santos e Guilherme Barreto. Companhias produtoras: Caetés Filmes do Brasil Ltda. e Kratex Produtora Cinematográfica Ltda. Elenco: Margarida Cardoso, José Mendes, Maurino Alves, Antônio Carnera, Francisco Santos, Vandik Vandré, Walter Bumucha, Guilherme Barreto, Sabino Romariz, Conrado Veiga, Valberto Souza, César Rodrigues, Márcio Rios, Everaldo Liziário, André Mendes, Cid Nilo Souza, Sidney Cafuringa Souza, Alberico Aranda, Arnaldo Santos, Antonio Monteiro de Souza, George Leopoldino, Valdomiro Gomes, José Raimundo, Pe. Alberto Oliveira, Luiz Roberto Magalhães, Eugene Mendes. Produção executiva: José Wanderley Lopes.  Produtor associado: Aécio de Andrade, Sebastião Ferreira, Guilherme Barreto, Pedro Ferreira Lima, Arnaldo B. Santos, Paulo F. de Andrade, Francisco M. de Oliveira.  Assistência de direção: Adnor Pitanga e José Mendes. Continuidade: Dayse Santos Vale. Assistência de câmera: Carlos Alberto Totes.  Engenharia de som: Aloísio Vianna. Montagem: João Ramiro Mello. Direção de arte Letreiros: Walter Carvalho.  Maquiagem: José Mendes.  Trilha musical: Pedro Santos.  Regente Maestro: Pedro Canção Santos. Autores das canções “Formação de bando” e “Tema de Geracina”: Pedro Santos e Marcos Vinicius.

1972. Documentário sobre “A Festa do Feijão”, produzido pela Caetés Filmes do Brasil. Documentário foi extraviado. Filme apresentava gravação dos principais momentos da “Festa Nacional do Feijão”; desfile de carros alegóricos das cidades participantes, simulando desenvolvimento da cultura do plantio até a colheita, bem como da escolha da rainha da festa.

1972. Cinema itinerante funcionou no prédio da “Sede dos Artistas”, localizado à Rua Pref. Adeildo N. Marques. Demolido.

1973. Nestor Noya (*1940+2016) vai para a Polônia estudar cinema na conceituada Faculdade de Cinema, mas fica na Suécia. Radicou-se no País, exercendo a profissão de fotógrafo profissional junto ao Governo Sueco.

1981. Ulisses de França Braga (*1944+2017). Funcionário do BB. Apaixonado pelo cinema, exibiu muitos filmes em 16 mm, na AABB. As exibições eram semanais.

1995. Durante Feira de Cultura Realizada na AABB, foi realizado Musical “As Músicas de Santana do Ipanema” incluindo homenagem aos 100 anos de cinema com as músicas consagradas na espera das sessões do Cine Alvorada, entre elas, “Olhando Estrelas”, gravada por Roberto Carlos.

1996. Filme Pernambucano “O Baile Perfumado” de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, teve participação de santanense nas filmagens. Manoel Constantino Filho, escritor, poeta. Atuou como ator e quebra galho. Teve cenas gravadas em Santana, dentro do Cine Alvorada, em Niterói SE e em Piranhas AL. No filme Lampião e Maria Bonita são vistos assistindo a um filme.
Homem de confiança de Padre Cícero, o fotógrafo libanês Benjamin Abrahão, parte de Juazeiro, no Ceará, nos anos 30, para levantar recursos e filmar Lampião e seu bando. Graças à sua habilidade para estabelecer contatos, Benjamim localiza o cangaceiro e registra o cotidiano do grupo. O filme, no entanto, é proibido pela ditadura do governo de Getúlio Vargas, durante o Estado Novo. Tempos depois, o Libanês foi assassinado brutalmente com arma branca, sem que se saiba quem foi o verdadeiro culpado.
Vencedor de cinco prêmios no Festival de Brasília de 1996: melhor filme, direção de arte, ator coadjuvante (Aramis Trindade), prêmio jovem cineasta Unesco (Lírio Ferreira e Paulo Caldas) e prêmio da crítica. A trilha sonora leva a assinatura de Chico Science, Fred Zero Quatro, Siba e Lúcio Maia, que participaram do filme desde o roteiro. As músicas começaram a ser compostas já nessa época, o que possibilitou a criação de doze temas no melhor estilo do “mangue beat”, utilizadas também na trilha incidental com algumas variações.

2003. Publicação do conto “Quatro Mortes e Nenhum Funeral”. João Neto Felix Mendes. Publicado no Portal Maltanet, link Literatura. Conto relata a magia do cinema, do drama do Zé Gomes (nome fictício), projecionista do Cine Alvorada e da empreitada da recuperação o filme, “A Volta Pela Estrada da Violência” e do documentário “A Festa do Feijão”.

2008. Santana recebeu a 6ª Edição do Projeto Cine Sesi Cultural, na Praça Senador Enéas Araújo. A exibição dos curtas "Até o Sol Raiá" e "Veio", de Pernambuco e a animação "Vida Maria", do Ceará. Os longas "Tapete Vermelho", "O Ano em que meus Pais saíram de Férias" de São Paulo, além, da animação infantil "Robôs".

2010. Santana do Ipanema, recebeu a 9ª edição do Projeto Cine Sesi Cultural, onde a população assistiu aos filmes Se eu fosse você 2, Pequenas Histórias e A Era do Gelo 3. Também foram exibidos os curtas: Os Filmes que Eu Não Fiz, Vida Maria e Josué e o Pé de Macaxeira.

2012. Pedro da Rocha, documentarista e cineasta Alagoano com cerca de 30 filmes lançados, entre médias e curtas metragens. Pedro foi agraciado com a comenda da Ordem do Mérito dos Palmares, grau Cavaleiro, concedido pelo Governo do Estado de Alagoas pelos relevantes trabalhos em prol da memória de personalidades alagoanas através dos documentários e registros cinematográficos.

2012. Documentário “Memórias de uma Saga Caeté” de Pedro da Rocha, coprodução Marcello Fausto e Vera Rocha. Filme revisitou produtores, atores/personagens do filme e pessoas da cidade sobre as memórias afetivas do filme “A Volta pela Estrada da Violência”. Filme esta disponível no Youtube no canal do cineasta Pedro da Rocha.

2012. Exibição do documentário “Memórias de Uma Saga Caeté” durante a III Mostra Sururu de Cinema Alagoano, em Maceió, no Cine Arte Pajuçara, com a presença da produção.

2013. Recuperação do Filme “A Volta Pela Estrada da Violência”. O longa-metragem foi recuperado a partir de uma cópia de 16mm e está disponível no Youtube, no canal do cineasta Pedro da Rocha.

2015. Divulgação no Youtube do filme “A Volta pela Estrada da Violência” pelo Sr. Arnaldo Bastos. Seu pai fez parte da produção executiva do filme, Sr. Arnaldo B. Santos.

2016. Nestor Noya (*1940+2016) Falecimento. Aposentado como fotógrafo profissional, faleceu em Estocolmo, Suécia. As cinzas vieram para Santana e foi sepultado no túmulo da família em 05/2017.

2017. Cinema Vereador Marciano do Couro promoveu sessão itinerante de cinema na creche Santa Quitéria no bairro da Floresta, filme voltado para o público infantil.

2017. Boticário traz a magia do cinema para Santana do Ipanema. Projeto Viva Linda Itinerante reúne convidados para exibição de filmes em praça pública.

2017. Documentário “O Mar de Corisco”, de Pedro da Rocha. Coprodução João Neto Felix Mendes e Marcello Fausto. Produção da trilha sonora João Neto Felix Mendes. Filme autobiográfico de Sílvio Bulhões, filho de Corisco. Lançamento patrocinado pela Academia Santanense de Letras, Artes e Ciências, exibido na AABB, em 02.12.2017, com a presença de Sílvio. Documentário disponível no Youtube no canal do cineasta Pedro da Rocha.
Economista de formação, Funcionário Público Federal, trabalhou no DNER, atual DNIT. Professor de Matemática no Colégio Estadual Professor Deraldo Campos, atualmente Mileno Ferreira. Durante muitos anos defendeu o sepultamento digno dos restos mortais de seu pai. Na edição nº50 da revista de 1967 “O Cruzeiro”, foi publicada matéria com entrevista de Sílvio solicitando as autoridades o sepultamento da cabeça do cangaceiro Cristino Gomes da Silva Cleto, vulgo “Corisco”, exposto no Museu Nina Rodrigues em Salvador. Sílvio foi a evento em São Paulo, como membro da Convenção Cultural das Câmaras Junior, defendendo a sepultura dos restos mortais de Corisco. Em 23.05.2013 lançou cinzas ao mar em Maceió AL.

2017. Exibição do documentário “O Mar de Corisco”, como filme convidado, no encerramento da VIII Mostra Sururu de Cinema Alagoano, em Maceió, no Cine Arte Pajuçara, com a presença de Sílvio e produção.

2018. Foi realizada mais uma edição, do projeto “Cinema do Vereador”, ação do parlamentar Marciano dos Santos (PPS), o popular “Marciano do Couro”. A sessão de cinema ao ar livre foi no bairro do Lajeiro Grande. Foi exibido o filme nacional “Narradores de Javé” (2003), de direção de Eliane Caffé. O projeto já passou pela Lagoa do Junco, Povoado Óleo, bairro Floresta e Sítio Camoxinga.

2018. Por iniciativa do projeto Cine Sesi Cultural, na sua 12ª edição, foram exibidos filmes, na Avenida Dr. Arsênio Moreira, defronte ao prédio dos Correios. Programação aconteceu nos dias 24 e 25.03.18

Filmes exibidos:
Sexta-feira
Curta da Oficina de Animação produzido em Traipu AL (2018)
Curta-metragem “Caminho dos Gigantes”
Longa-metragem “O Menino no Espelho”
Sábado
Curta-metragem “A Luta”
Longa-metragem “O Filho Eterno”
Domingo
Curta da Oficina de Animação produzida em União dos Palmares AL (2018)
Curta-metragem “Salu e o Cavalo Marinho”
Longa-metragem “Zootopia”

João Neto Felix Mendes, redação e pesquisa.

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