PARABÉNS, ALICE

Crônicas

Por: Pedro Vieira de Farias

Quero neste momento, tão oportuno e tão raro, prestar homenagem a minha irmã Alice, pelos seus 100 anos de vida e pelo que ela representa para todos familiares e para as pessoas do seu convívio.

Alice é a prova concreta de que “as aparências enganam”. Dentro desse corpo supostamente frágil, encontramos uma fortaleza difícil de ser avaliada.

Essa nossa irmã teve uma vida “cheia de altos e baixos”, como todo ser humano. Repleta de alegrias e sofrimentos, também. Sua grande tristeza foi que com cinco meses de idade, em consequência de uma queda, teve seu fêmur esquerdo quebrado, fato que, em razão da falta de assistência médica da época, acarretou uma sequela que a deixou com pequena dificuldade de locomoção, fato que não a impediu de tornar-se uma pessoa de fundamental importante nos afazeres de um modo geral.

A infância de todos nós foi muito atribulada, porque aconteceu num tempo em que o cangaço predominou no sertão nordestino, notadamente nos estados de Alagoas, Pernambuco e Sergipe. O avanço nas fazendas, pelo bando de Lampião e demais bandidos, era muito preocupante, porque fazia com que os proprietários tivessem que abandonar suas terras, passando a homiziar-se na caatinga, com medo dos saques. No caso da nossa família, ocorreu uma oportunidade em que tivemos que abandonar a fazenda por quase três anos, fato que causou enormes prejuízos, não só no campo financeiro como também na convivência familiar. Quando os bandidos se aproximavam de nossos territórios, de forma inesperada, nossa preocupação era de os cachorros da propriedade denunciarem nossa presença no local. A vida somente voltou à normalidade com o extermínio do cangaço, em julho de 1938.

Alice, por circunstâncias da vida, permaneceu em nossa casa, ajudando nossa mãe na labuta diária, até os dias finais da vida de nossa genitora. Além dos serviços domésticos, Alice ainda tinha que preparar a alimentação dos peões da fazenda, porque ainda não existia a agricultura mecanizada e os trabalhos eram todos executados através de mão de obra humana.
Uma lembrança que sempre me vem à mente, com bastante clareza, quando a noite caía, Alice finalizava os trabalhos da casa com um candeeiro na cabeça, porque ainda não havia energia elétrica.

Obrigado Alice pelos 27 anos convividos com você, na Fazenda Laje Grande, nosso Reino Encantado. Obrigado Alice, pelos seus 36.525 dias de vida, completados nesta data.

Obrigado a todos os presentes

Fazenda Laje Grande, 24 de junho de 2018

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