D. PEDRO I, IMPERADOR E REI

Djalma Carvalho

Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras.

Acabo de ler o excelente texto das páginas 111/123 do livro 1822 (Nova Fronteira, RJ, 2010), sequência do livro 1808, ambos de autoria do historiador Laurentino Gomes. O capítulo, acompanhado de inúmeras notas, é totalmente dedicado à biografia de D. Pedro, primeiro imperador do Brasil e 29º rei de Portugal.
Nascido em 12 de outubro de 1798 no palácio de Queluz, ao norte de Lisboa, faleceu em 24 de setembro de 1834, no mesmo quarto onde nascera.
Logo de início, o autor compara D. Pedro a “um meteoro que cruzou os céus da História numa noite turbulenta. Deixou para trás um rastro de luz que ainda hoje os estudiosos se esforçam por decifrar”.
De fato, vida turbulenta. Com a postura de estadista aos 23 anos de idade fez a independência do Brasil. Embora tivesse jurado fidelidade ao pai e a Portugal, as cortes de Lisboa não confiavam no juramento de D. Pedro à Constituição portuguesa. Tanto que, após o retorno de D. João VI a Portugal em 1821, tropas portuguesas permaneceram aquarteladas no Rio de Janeiro e na Bahia.
Houve duas razões para D. Pedro proclamar a independência do Brasil, com o histórico Grito do Ipiranga: a primeira, a ordem das cortes de Lisboa para que voltasse imediatamente a Portugal, mesmo com os protestos dos brasileiros; e a segunda, a morte do primogênito João Carlos, que seria seu sucessor no trono do Brasil. Segundo a lenda da maldição, surgida no reinado de D. João IV (1604-1656), nenhum primogênito da dinastia Bragança herdaria o trono do pai, o que aconteceu até o advento da República, no Brasil e em Portugal.
O autor do livro continua: “O rei lutou contra tudo e contra todos, fez a independência de um país, reconquistou outro no campo de batalha, esforçou-se para modernizar as leis e as sociedades e amou muitas mulheres.” Venceu guerras e revoluções internas, expulsou as tropas portuguesas, superou as dificuldades advindas da ruptura com Portugal, conseguiu empréstimos externos e colocou o Brasil no caminho do seu grande destino, mantendo os limites do seu território continental. Um grande estadista, sem dúvida.
Em 1823, dissolveu a assembleia constituinte por ele convocada e outorgou, em 1824, uma constituição liberal, a que mais durou até hoje na história do Brasil.
Após a independência do Brasil, D. Pedro abdicou da coroa de Portugal em 1826, com a morte de D. João VI, seu pai. Também abdicou da coroa do Brasil em 1831, indo lutar em Portugal contra seu irmão Miguel, que havia usurpado o trono de Maria da Glória, filha mais velha de D. Pedro.
Não gostava de delegar poderes. Fiscalizava, pessoalmente, as repartições e os comerciantes denunciados por fraudes. “Tinha prazer em mandar e abominava ser desafiado. Nascera para ser chefe, para governar, para ser obedecido”, segundo os historiadores. Guerreiro, bom soldado, valente, implacável com os inimigos, autoritário.
De olhos negros e brilhantes, D. Pedro tinha estatura acima da média. “Moreno, de cabelos encaracolados, bigodes e costeletas fartas”, como disse o autor. Sofria de ataques de epilepsia, debatendo-se às vezes em convulsões.
D. Pedro casou-se com duas mulheres: Leopoldina, com teve sete filhos; viúvo, casado com Amélia, teve apenas um filho. Mas teve treze filhos bastardos. Ao mesmo tempo amou duas irmãs: Domitila de Castro, a marquesa de Santos, e sua irmã Maria Benedita de Castro, a baronesa de Sorocaba. Com a primeira, teve quatro filhos, com a segunda, um. Ao todo, 21 filhos.
Casou-se em segredo com Noemi Valency, dançarina francesa, que teria sido sua grande paixão, que dera à luz um menino que morreu recém-nascido, cujo cadáver mumificado era guardado no gabinete do imperador.
Disse o biógrafo Octávio Tarquínio de Souza: “Essa capacidade reprodutiva revela um D. Pedro excessivo, exagerado, desmedido, nas práticas amorosas, uma insaciável fome de mulher, uma lascívia quase sem pausa.”
Seu parceiro de aventuras amorosas era o português Francisco Gomes da Silva, “Chalaça”, o bom amigo, “tocador de viola e beberrão”, dono de casas noturnas no centro do Rio de Janeiro, frequentadas por prostitutas e marinheiros. Apesar dos compromissos oficiais, sobrava-lhe tempo para as escapadas noturnas, varando madrugadas.
Da mãe, a espanhola Carlota Joaquina, também conhecida pelas aventuras sexuais, herdara cavalgar muito bem. Homem hiperativo. Acordava cedo e dormia muito tarde. Gostava de jogar, mas, irritadíssimo, abandonava o jogo quando perdia.
Diria a História que a cultura de D. Pedro era descurada, incompleta e bárbara. Imagem falsa do soberano, pois fora educado por padres franciscanos e jesuítas. Sabia francês, inglês e latim. Possuía largos conhecimentos musicais. É de sua autoria, por exemplo, a composição dos acordes do Hino da Independência.
Ao morrer, D. Pedro deixaria dois soberanos como sucessores: em Portugal, a filha Maria da Glória, coroada como D. Maria II; no Brasil, o filho D. Pedro II.
Afinal, D. Pedro foi, na verdade, um meteoro que passou pela história do Brasil que “despertou ódio e paixões com igual intensidade”, como assegura o autor do livro.

Maceió, julho de 2016.

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