Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.
Reconheço mesmo que sou um sujeito conservador nos meus hábitos de vida. No vestir, em viajar, na escolha de restaurantes, cabeleireiro. Sempre a mesma bebida, o mesmo bar, a mesma boate, os mesmos amigos. Raramente promovo mudança nesses hábitos pessoais. Se por acaso me venha ocorrer algum passo diferente, será porque alguém me teria indicado novo caminhar, até então por mim passado por despercebido. Embora conservador nesse particular, sempre e facilmente me adapto a saudáveis mudanças, a ampliar o círculo de amizade, etc.
Há muito, freqüento um restaurante situado bem próximo de minha residência, normalmente aos sábados, domingos e feriados. Conheço o nome dos garçons e eles me conhecem também, fato relevante na relação das pessoas, nas relações comerciais.
Recentemente, lá estive. À entrada do restaurante, o garçom ofereceu-me um copinho de especial cachaça, como cortesia da casa. Agradeci a gentileza, mas recusei a bebida, por duas razões. A primeira: a vigência da chamada Lei Seca. Àquela hora, por exemplo, estava com a obrigação de dirigir meu próprio transporte. Na verdade, nessas ocasiões, com a opção de ingerir bebidas alcoólicas, utilizo os serviços de táxi. Segunda razão: não tenho hábito de beber cachaça ou aguardente, delicioso aperitivo de preferência nacional.
Aproveitei a oportunidade para dizer ao gentil garçom que a Lei 11.705/2008 estava em vigor e era rigorosa no que diz respeito ao consumo de álcool por motoristas.
Se não, vejamos.
Referido diploma legal tem por finalidade diminuir acidentes de trânsito causados por condutores alcoolizados. Agora a tolerância é zero quanto à ingestão de álcool. Sabe-se que atualmente a multa é de R$2.934,70, podendo seu valor ser dobrado na reincidência. O governo cogita em elevar os valores de multas do trânsito ainda em 2017. Esses valores devem chegar às alturas!
Teoricamente, uma pessoa de 70 kg pode tomar três copos de vinho e aguardar três horas para dirigir. Da mesma forma, quem tomar dez copos de cerveja pode aguardar dez horas para dirigir. Tudo teoricamente.
Com a Lei Seca o Brasil teria reduzido em 11% o número de acidentes de trânsito com morte, posição que coloca o país em 4º lugar no mundo. A ONU estabeleceu a seguinte meta para o Brasil: redução de 50% no período de 2011 a 2020.
Retornando ao assunto inicial, eu havia dito ao garçom que não bebia cachaça ou aguardente, mas, costumeiramente, bebia vinho ou uísque. Ele olhou-me, rindo, e, comparando-me aos modernos automóveis, disse: “Então, o senhor é bebedor flex!”
Tive que entrar no clima da brincadeira.
Maceió, outubro de 2017.
Comentários