DEBAIXO DA CAMA
(Clerisvaldo B. Chagas, 30 de março de 2011).
Em 1975, foi lançada a música “A velha debaixo da cama”, do compositor mineiro Geraldo Nunes. Na realidade, era a “Véia” e não a velha. Essa música longa e chata fez um sucesso enorme no Brasil inteiro, sendo mesmo a consagração de Nunes. Lembramos ainda, na cidade interiorana de Santana do Ipanema, o abrilhantamento do Carnaval com as criatividades do professor de Educação Física, Reginaldo Falcão. O professor Reginaldo sempre gostou de brincar sozinho, assim como seu parente Nozinho Falcão, fazendeiro, comerciante e em certa época prefeito, que também possuía o gosto pela folia solitária. A citada música falava de uma velha que ficava debaixo da cama e criava uma porção de animais como um rato, gato, cachorro, jumento e outros mais. Quando cada animal começava a fazer zoada, era um desadoro para a velha que sempre citava a frase: “Ai meu Deus que se acaba tudo...” Pois bem, o nosso querido professor, encarnou a “Véia”, saindo pelas ruas de Santana, dessa vez com auxiliares transportando a cama e o homem debaixo com alguns pequenos animais. O sucesso das presepadas de Falcão garantiu as apresentações do insípido carnaval de rua de Santana do Ipanema.
Quando falamos em violência, infelizmente tema obrigatório do dia a dia, estamos sentindo na pele o que o carioca passava antes das ocupações definitivas dos morros do Rio. Alagoas teria mesmo que ser primeiro lugar em alguma coisa. E se não aparece pelo bem, vai surgindo pelo negativo, por que é muito mais fácil continuarmos na selvageria desenfreada que atinge a totalidade do seu território. Recentemente, a morte de um pai esquartejado pelo filho, foi apenas um dos inúmeros crimes entre familiares que se banalizaram na terra caeté. Não estamos mais seguros nos ônibus, nos hospitais, nas clínicas médicas, nos restaurantes, nos pontos de ônibus, pois a ousadia dos nefastos, desafiadores e cínicos arrastões, prolifera no estado como ervas daninha na Agricultura. Estamos vivendo a fase negra do Rio de Janeiro ou os tempos sem leis do Velho Oeste americano. A coisa chegou a tal ponto que espetamos o troféu de primeiro lugar no cimo do pau de sebo. E o pior de tudo é ouvir declarações das autoridades que dirigem o estado. Eles falam mostrando indiferença, ingenuidade ou delírio assim como o ditador da Líbia. Quantos mais falam as autoridades mais nos sentimos perdidos. Em Alagoas, o que vale agora é a proteção divina invocada pelas diversas religiões, principalmente para quem tem merecimento. Os santos, outros guias espirituais e o próprio Jesus em pessoa, passaram a servir como batalhões da Terra, para dá conta de tantos pedidos de proteção nessa pequenina faixa triangular e violenta.
Por aqui mesmo não tem quem dê jeito. Nem o tão falado coronel Amaral, nem Roy Rogers, nem Rock Lane, nem mesmo o homem aranha. Sofrendo todos os dias com essa realidade de casa e das ruas, não existe mais lugar seguro. Muitos são os que têm uma vontade danada de abraçar a “Véia” do compositor Geraldo Nunes e com ela morar definitivamente DEBAIXO DA CAMA.
Comentários