Antonio Machado
“A natureza tem seus mistérios,/ que os homens não compreendem,/ uns não querem entender,/ outros querem, e não entendem” (Colly Flores), os fenômenos cíclicos, muitas vezes, fogem ao conhecimento humano, que a tecnologia dos homens preveem, mas não evitam.
As secas são previstas, porém não evitáveis, cabendo portanto, ao homem criar meios e condições de convivências com esses fenômenos que cruciam os homens.
O ano de 2018, foi essencialmente seco prejudicando o homem do campo, que na questão lavoura nada tirou da roça, haja vista as chuvas caídas no período invernoso no sertão, não foram suficientes para criar sequer, uma lavoura de subsistência, ao homem da roça coube esperar pelas ajudas magras e demoradas do governo, desdobrando-se numa mísera pensão de menos de mil reais por mês, um caminhão pipa para as comunidades. E as cestas básicas, sumiram? Só sabe o seu valor, quem depende delas.
Quanto os juízes, desembargadores, deputados e similares, tiveram um gordo e substancioso aumento, tão alto que só eles sabem calcular. Os professores de Alagoas estão praticamente há três anos sem aumento, e quando ocorre esse descalabroso aumento de tão ínfimo, o servidor não percebe nos vencimentos quando os recebe, registre-se que a única virtude, é receber no mês trabalhado, a primeira fase e o restante se posterga para mais onze dias.
Mas quando os poderes dos homens faltam, os de Deus chegam, a seca estava assolando tudo, não obstante, o lastro de fome, gerada também pela onda avassaladora do desemprego outra chaga visível na sociedade atual, pois quanto maior a cidade, ou as comunidades, maior é esse número de desemprego que gera a fome nas famílias. Os pedidos das pessoas e das árvores secas, hirtas de poucas folhas, à noite parecem se juntar as mãos postas unindo as mãos humanas numa prece silenciosa e uníssonas pediam aos céus as chuvas benfazejas, a chuva para os campos, e as flores haurirem para enfeitar o nascimento de Jesus, que virá trazendo o Natal.
E o Deus dos pobres ouviam os pedidos e no mês de seu augusto nascimento (dezembro) mandou a chuva santa para o sertão, este sertão de mulher séria e homem trabalhador como cantou o Gonzagão. E os campos estão verdes os açudes cheios e alguns córregos já com água, é belo contemplar-se as serras atapetadas de verde alcatifa, bordadas de amarelo e roxo, sendo as floradas das caraibeiras e paus-d’arco que ainda restam bordando as serras, outras queimadas pela seca implacável que se abateu no sertão. A chuva traz riqueza ao sertão e alegria ao sertanejo, que são flores vivas caídas do céu, sendo um gáudio de rosas multicores para o sertanejo como tão bem escreveu o maior poeta do sertão, Leandro Gomes de Barros (1868 – 1918), em sua obra antológica Suspiros de um sertanejo: “sangram os oiteiros,/ o chão se alagando, as águas correndo/ paus dos oiteiros/ buscando ribeiras,/ para a ela unir-se/ com ele extrair-se/ do céu um tesouro,/ esse riso de ouro,/ que faz tudo rir-se”.
Este é o quadro singelo, caro leitor, pelas chuvas trazidas ao sabor das trovoadas caídas do céu, que se transformam em rosas e flores para embelezarem a terra outrora adusta e seca, que agora vê emergida da terra enfeitando o sertão, nas tardes mornas, ouve-se o chirleio das aves no cair das tardes no afago do acasalamento, no canto melancólico do juriti e no canto estridente do tetéu, juntos ao som do coaxar dos sapos que formam a mais bela orquestra do sertão. Este é o sertão de carne e osso.
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