vento da manhã agitava a craibeira. Era Santana durante a Semana Santa de pleno estio. Crucifique-o! a turba incentivada a acender o conflito. Crucifique-o!
O enredo pertencia ao galo que encantava a manhã a Esculápio, lembrando às vezes nas quais se curava, e às vezes em que também se adoecia. Talvez houvesse nas brumas escuras do sertão algo que acordasse o dia e amanhecesse, feito a linha que salvava o herói, no labirinto de Creta. A lavadeira Ariadne vinha àquela hora trazendo roupas lavadas no Panema. Dizia a lavadeira que se sacrificava por amor, como se sacrificou a lavadeira Medeia, que veio antes.
Se fosse enumerar cada pessoa sem sorte – outra vez cantou o galo, – tantas vezes em que de amor adoecia-se, disse a lavadeira Ariadne, todas as noites no mundo eram poucas a tantos sem sorte. Ou mesmo as noites todas de algum universo, porque nada, agora, o coração silenciava, estas vezes em que de amor adoecia-se.
Ladeira acima, a lavadeira Ariadne lembrava-se da avó, Julieta, que também se sacrificou por amar. Ariadne nunca se esqueceu da prima Esmeralda, que adoeceu o coração de Quasímodo. Ariadne falou sobre Dulcineia, que enlouqueceu o coração de Dom Quixote. Suada, Ariadne ouviu a turba nas ruas de Santana, aos gritos.
Era tradição sertaneja, principalmente no Dia da Paixão, interpretar no teatro de rua a peça “Conto da Paixão”, com atrizes do povo e atores das ruas e praças que transitavam de chapelinho em dias solares. Os corpúsculos, durante as interpretações, ganhavam ares de álulas, e suas aselhas voavam sobre as serras, serrotes e morros de pedras brancas.
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Literatura: CONTO DA PAIXÃO
LiteraturaPor Marcello Ricardo Almeida 29/03/2024 - 18h 55min Acervo do Autor
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