Num dia desses, estava eu, em um descontraído colóquio, com um homem que tinha idade de ser meu pai. Não era pessoa do meu convívio. Nem lembro mais como era seu rosto. Talvez fosse encaliçado de rugas. Tivesse um chapéu de palha na cabeça. Os braços fortes, a pele amorenada muito o denunciava como um camponês.
O lugar onde estávamos era a céu aberto, sob o mormaço do dia. O azulão do firmamento sem nuvens, testemunha da lição que naquele dia aprendi. Não sei o porquê, de repente estávamos falando sobre rede do Ceará. O homem disse assim: “Toda rede traz uma sentença de vida e de morte. Quando eu era menino, lá na casa do meu pai, quando minha mãe engravidava, com a barriga grande, ia dormir numa rede pro velho não mais a importunar, até o final da gestação. Segundo ela, pra não perder a cria. E outra, ninguém passava por baixo de uma rede! Pois se tinha isso como sinal de morte. Naquele tempo não existia caixão de defunto. Os mortos eram enterrados dentro de uma rede. Pode olhar que a posição mais confortável dentro de uma rede, é a de um defunto. Quer um conselho: Jamais xingue uma rede! Passar embaixo de rede, é como assinar a própria morte!” E ilustrou seu mau agouro com alguns casos ocorrido na sua família.
Isso me fez refletir, o tanto de vezes que passei por baixo de uma rede do Cariri. Ainda criança, depois jovem e mesmo adulto. E cá estou, na cumeeira do mundo, fazendo estripulia. Se você na sua infância não brincou numa rede, desculpe-me a franqueza, você não teve infância. Criança inventava cada presepada! Virar a boca da rede pra baixo, estando lá dentro, se equilibrando pra não cair. E as balançadas que quase faziam os tripulantes serem arremessado pra fora!
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Colunistas: REDES E CIDADES
LiteraturaPor Fábio Soares Campos 27/11/2023 - 20h 10min Acervo do Autor
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