Blogs: A ausência que seremos

Literatura

Por João Neto Félix Mendes - www.apensocomgrifo.com

Zé Cirilo e Lelé

A minha modesta rua foi a passarela de tanta gente expressiva e marcante, cada uma com as suas particularidades. Conhecê-las, ainda que ínfima parte e compartilhar breves momentos, ajuda-nos a completar a enigmática e indelével composição existencial de cada um de nós. Pessoas que foram se ausentando no lapso do tempo e quase nem percebemos. Como seremos lembrados?

Quando a manhã clareava e chegava a hora de comprar o pão nosso de cada dia, eu me via descendo a ladeira em direção à Mercearia e Bar de Erasmo que ficava a poucos metros de casa. Lá estava Lelé, sempre prestativo, gentil e discreto com seus óculos de fundo de garrafa que o obrigava a levantar à vista acima da armação como um professor paciente. Seus cabelos brancos eram as testemunhas de que o tempo revelava seus efeitos. Pessoa de bem, pacato e introspectivo. Não se casou, nem deixou descendência.

Zeloso, nos entregava os pães que ele nos vendia arrumados no formato triangular, envolto numa espécie de cinta de papel que os cobria somente a parte central. Ainda não eram oferecidas em sacolas de papel como hoje. Se fossem cinco pães, três ficavam na base, dois na parte superior e um em cima. Raramente se ia à padaria porque se tinha nas mercearias e os carrinhos, hermeticamente fechados, que passavam porta a porta, oferecendo pão francês, criolo e até o pão doce jacaré da Padaria Royal. O vendedor circulava pressionando a buzina com toques duplos inconfundíveis, reforçado pelo canto dolente e monótono: - Ói o pãããooo!!!

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