Na noite desta quinta-feira (18), a Associação dos Empreendedores no Pinheiro e Região Afetada esteve na grande final do IV Festival de Música Popular Em Cantos de Alagoas para manifestar-se contra a Braskem e defender o samba “Bairro do Pinheiro”. A canção, composta e interpretada pelo músico Manudí, que cresceu na parte alta da cidade de Maceió, é um retrato poético da memória dos bairros destruídos pela mineração e da situação atual das vítimas da multinacional. Durante a apresentação de Manudí, a Associação dos Empreendedores, junto do próprio cantor e de outras organizações presentes, levantou faixas em protesto às injustiças do processo indenizatório. Devido à comoção geral do público, o festival criou uma categoria extra na premiação e concedeu menção honrosa à música.
Ao fim da cerimônia, antes mesmo do resultado final ser divulgado, o professor Tainan Canário, representando o corpo de jurados, deu destaque ao samba. “O júri gostaria de fazer uma nota. Não está prevista menção honrosa no edital, mas há uma canção que os jurados gostariam de homenagear. Em nome do júri, eu venho aplaudir a canção ‘Bairro do Pinheiro’”, declarou. “Independentemente de critérios”, ressaltou o professor, “o júri considera que ela é um registro histórico e deve constar nos livros de história das próximas gerações”. Foi então que a secretária de cultura do estado, Mellina Freitas, resolveu conceder um troféu de menção honrosa ao samba, em reconhecimento a sua importância histórica e social para Alagoas.
Para o presidente da Associação dos Empreendedores, Alexandre Sampaio, a comoção do público revela a importância do tema para a cidade. “A plateia foi ao delírio! Foi, sem dúvidas, a música de maior repercussão do festival. Isso mostra o quanto o crime da Braskem cala fundo na emoção e na alma do maceioense.” Ao lado de Sampaio, estiveram os empresários Dirceu e Cláudia Buarque, donos da tradicional padaria Belo Horizonte, que deve fechar suas portas até o fim do ano devido ao crime da mineradora, e uma das coordenadoras do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (o MUVB), Neirevane Nunes. Segundo a liderança do MUVB, a canção serve para dar voz às vítimas. “É um marco de resistência nesse processo de luta por justiça. Manudí é a nossa voz. Através da arte, conseguimos expressar nossa dor e indignação.”
“Manudí conseguiu passar o grito de lamento das 70 mil vítimas desse crime. Nós estamos profundamente gratos por sermos representados por esse samba tão emocionante”, afirma Wellington Santos, pastor há quase 30 anos na Igreja Batista do Pinheiro, que é mencionada na letra da música. O pastor, que está organizando o “ato de luto e luta”, um protesto inter-religioso que acontecerá em frente às portas da Braskem nos dias 3 e 4 de dezembro, fez um convite ao autor da canção. “A música não pode servir apenas para entreter. Ela tem que servir principalmente para denunciar e protestar. Por isso, convido Manudí para estar em nosso ato inter-religioso cantando o samba ‘Bairro do Pinheiro’.”
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