Estamos nacionalmente de luto. Lembro-me assustado da história bíblica de Jó. Voltarei ao enlutado adiante. É muito difícil e dolorosamente cruel constatar uma estatística dessas: 250 mil mortos! Tenho amigos e amigas que estão incluídos nesses dados. Uma dor a mais, para mim. Uma dor existencial suprema que denuncia a nossa futilidade e a nossa covardia cotidianas. Estamos ficando acostumados com a morte como se ela fosse um fato banal mesmo quando morrem a cada dia 1000 pessoas da mesma causa. O que nos deveria assombrar, alarmar, imobiliza-nos, torna-nos indiferentes.
É angustiante também saber que não temos estrutura para atender as vítimas. Primeiro, foi a escassez de álcool, máscaras e luvas. Depois a falta de respiradores. E logo a falta de testes para toda a população. A seguir a falta de leitos especializados. A falta de gente capacitada da área da saúde para dividir os trabalhos com os que estão sobrecarregados. Os fármacos que não servem para nada. A ideologia política impregnando a farmacologia em rede nacional, com outdoors e muito mais. A inexistência de uma vacina. Depois, a feitura e a vinda portentosa de vacinas e os novos embates da torcida do contra e as burocráticas e estressantes tratativas, seguidos das grotescas atitudes de algumas pessoas ao aplicar as vacinas. A barbárie filmada através de celulares. Os fura-filas. Os que querem usar o poder para furar filas. Os erros estúpidos de logística.
Todos(as) têm amigos e amigas, conhecidos e conhecidas que, de algum modo, contribuíram para que esse número fosse terrivelmente possível, tanto por outrora ter querido que se chegasse a esse estado político durante as eleições, este status quo nefasto, bem como por duvidar da pandemia e seus efeitos nocivos ou por acreditarem em crenças obscuras e absurdas e irem contra a ciência e a razão, sob um pathos nocivo político, ideológico e, até mesmo, fanático. Incapazes de reflexões sérias e autocríticas necessárias.
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Colunistas: 250 mil mortos
LiteraturaPor Adriano Nunes 25/02/2021 - 19h 45min Hermes de Paula / Agência O Globo
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