Literatura de Cordel: Acervo Marques de Melo será franqueado à visitação pública no museu internacional da xilogravura

Cultura

por José Marques de Melo

Fundado em 1987,  pelo Professor Antonio Costella, o museu Casa da Xilogravura (Campos do Jordão / São Paulo / Brasil) vai sediar neste ano de 2014 a mostra ?Literatura de Cordel: Acervo Marques de Melo ? Folhetos de Época?.   Além de promover mostras periódicas dos seus ramos de expressão estética, esse museu   conta com peças oriundas de vários países, oferecendo ao visitante uma visão panorâmica da arte xilográfica. 

Trata-se de universo artístico que não se limita ao campo erudito, praticado por gravuristas famosos como o espanhol Pablo Picasso, o francês Henri Matisse e o alemão Albrecht Dürer ou os brasileiros Lívio Abramo, Lasar Segall,  Aldemir Martins, incluindo também o segmento popular, através dos ilustradores de capas dos folhetos de cordel, entre eles os mestres Noza,  Dila ou J. Barros.

Pertencente à equipe de docentes fundadores da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), o professor Antonio Cosella tomou a decisão de abandonar a carreira acadêmica, passando a residir em Campos do Jordão, onde se dedicou exclusivamente à literatura e às artes plásticas.  Para tanto,  adquiriu o edifício  construído em 1928 pelas irmãs beneditinas, adaptando o antigo mosteiro para abrigar a Casa da Xilogravura, finalmente inaugurada em 1987 na vila de Jaguaribe.
 
Turismo cultural
 
Núcleo urbano situado na Serra da Mantiqueira, Campos do Jordão conquistou visibilidade nacional com a publicação  do romance Floradas na Serra, escrito por Dinah Silveira de Queiroz e transformado em filme estrelado por Cacilda Becker.    Essa aprazível estância climática passou a atrair fluxo turístico de todo o mundo motivado pelo Festival de Inverno organizado pelo maestro Eleazar de Carvalho, mas também pela pinacoteca dos modernistas  nacionais (Volpi, Rebollo, Djanira, Portinari) aberta ao público  no Palácio de Verão do Governo do Estado de São Paulo.  Assim sendo, o conceito de palácio foi transformado em espaço de difusão artística, pelo Secretário Estadual de Cultura José Mindlin,    deixando de ser a hospedaria oficial dos  visitantes ilustres como o general francês Charles De Gaule, herói militar, e outros figurantes midiáticos, convidados especiais de governadores populistas como Ademar de Barros e Janio Quadros.   

O museu da xilogravura configura iniciativa cultural inédita em nosso país por se tratar de   empreendimento mantido inteiramente com recursos oriundos de um fundo patrimonial instituído pela Família Costella, Adotando modelos bem sucedidos de gestão,  o professor Fernando Costella, sensibilizou as autoridades uspianas a assumir gradativamente a administração desse projeto xilográfico. A Pró-Reitoria de Cultura da USP vai gerir futuramente a instituição    como sucessora do casal Antonio/Leda  Costella, garantindo desta maneira sua continuidade intelectual.
 
Literatura de Cordel
 
Não obstante o perfil erudito que marca o desenvolvimento desse projeto, como demonstra de forma transparente o professor Costella no livro Breve História Ilustrada da Xilogravura (Campos do Jordão, Editora Mantiqueira, 2003), o museu reservou desde o inicio,  uma pequena sala destinada à cultura nordestina,  realçando signos peculiares ao cordel.  Antonio e Leda  pediram a colaboração  do casal Marques de Melo, que desde 1993  possui um chalé destinado ao veraneio familiar.      Tal participação ultrapassou o âmbito estético-cultural, incluindo modestas doações sazonais de  pecas representativas do cotidiano popular.

Nos colóquios ao redor da lareira, realizados em noites frias, seja em Jaguaribe (onde vivem os Costella), seja no Alto de Capivari (onde está situada a residência Marques de Melo),  tornou-se freqüente  a conversa sobre temas da literatura de cordel, motivada pela constituição do acervo sobre ?cordel de época? que o professor Marques de Melo vem  organizando,  com o auxílio da esposa Silvia, bem como dos familiares e amigos que os visitam  nas férias e fins de semana.
 
Centenário Cantel
 
Essa coleção de folhetos provenientes de todos os recantos nordestinos tomava inevitavelmente como fonte de referência o vasto e significativo Fundo Cantel, possivelmente o maior acervo da literatura popular brasileira, preservado pela Universidade de Poitiers (Franca), onde estiveram os pesquisadores Joseph Luyten e Roberto Benjamin, ajudando   a ordenar e a classificar a fortuna critica acumulada pelo intelectual francês que fez do Brasil seu objeto principal de pesquisa.

A doação do Acervo Marques de Melo de Literatura de Cordel, estimado  em 600 folhetos, ao museu da xilogravura, ocorre justamente no Ano do Centenário  de Raymond Cantel. Nascido em 1914, o professor  Cantel manteve inicialmente uma rota de pesquisa sobre cordel tendo como paradigmas o campo da literatura. Mas  a partir de 1967, envereda pelas sendas da Folkcomunicação, atraído pela ousadia investigativa do professor Marques de Melo,  inspirado pelo mestre Luiz Beltrao.
 
Mostra temática
 
Em face dessa  variável histórica, o professor Antonio Costela anunciou uma mostra temática no decorrer deste ano, apresentando  o perfil do Acervo Marques de Melo da Literatura de Època. Franqueando o acesso  da coleção ao publico visitante, a Casa da Xilogravura cumpre seu papel democrático, difundindo o conhecimento, incentivando a pesquisa e promovendo o bem comum. 

Os interessados em conhecer o itinerário intelectual de Raymond Cantel e as trilhas investigativas de José Marques de Melo podem consultar a antologia organizada por Guilherme Fernandes e outros autores ? Metamorfose da Folkcomunicação (Sao Paulo, Editae, 2013)     
 
Para saber mais
 
 
   Museu Casa da Xilogravura - Xylography Museum
Museu Casa da Xilogravura, Xylography Museum, Maison de La Xylographie,  Casa della Silografia, Casa de la Xilografía, Holzschnittmuseum.
www.casadaxilogravura.com.br/

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