A CIBERESCOLA E O PÓS-ESTRUTURALÍRIOS

Contos

Por Marcello Ricardo Almeida

Hoje, eu corri ontem! disse. Ele é um velho bem sujo! Quem? Aquele rabugento. Deixou a sala abrindo e fechando a boca. Saiu da sala de aula arfando, puxando o ar, como se em lugar de pulmões houvesse brânquias. Na sala de aula exigia, de mesa em mesa, encarava e cobrava do aluno: Ei, você, ei! Quanto 8X5? Me responda! insistiu o professor Pabulagem Monótono. E você, aí, cabra? Vou já, aí, acabar com essa sua claudicância. Parem com essa claudicância, cambada. Psiu! Logo acabarei com essa igrejinha de vocês. Diga quanto 8X5. Não sabe. Não sabe? Não sabe! Vai saber, quando chegar aos 40. Lá fora, jogou o corpo na sombra da primeira árvore. Braços abertos, pernas abertas – personificava o Homem Vitrúvio, não do arquiteto e, sim, do pintor renascentista. Uma pintura sobre a grama falhada. Ofegava. Cerrou e abriu os olhos, fitou demoradamente o sol. Arquejava. Era como se se despedisse deste mundo matemático. Começou a fechar e a abrir os braços e as pernas, agitado, frenético, como se quisesse voar, como se pudesse. Levou a mão e massageou, frenético, o peito. Demonstrava sofrer palpitações, ter medo de algum ataque repentino. Mergulhava na proa e levantava a popa. Falou sobre a inutilidade da autonomia do professor em sala de aula neste tempo de sol. Falou com as folhas das árvores sobre o domínio de sala. Falou com os galhos e as flores. Procurou um ninho de joão-de-barro e encontrou marimbondos. As vespas desciam e subiam, como na sala de aula, sem se importarem com o professor. Olhava por entre as folhas à procura da sua liberdade de cátedra, e não a encontrava; apurava o olhar nas frestas entre as folhas e os galhos, entre os frutos e as nuvens, o azul-celeste, um avião. Nenhum balão. Talvez passasse algum disco-voador. Caiu em sua cabeça uma sequência didática. Ela veio, vindo, veio, e foi ploft! Ele não esperava aquele fruto podre de maduro esparramar-se sobre os óculos e resvalar-lhe nos ovos. Levantou-se sujo do chão, e desconfiado. Tirou os óculos; esfregou as lentes na calça. Devolveu-os ao rosto. Acendeu a ideia. Olhou os lados à procura de testemunhas e viu que ninguém o viu. Limpou-se, no alto da empáfia. E voltou à outra sala de aula. Após a chamada, o professor Pabulagem Monótono procurou alguém para perguntar: Quanto 8X5? Me responda! Insistiu com outro aluno. E você? Vou já, aí, acabar com essa sua claudicância. Parem já com essa claudicância, cambada! Diga quanto 8X5. Não sabe, não sabe. Aposto. Não sabe? Não vai saber! Vai saber, quando chegar aos 40. Cansado, Pabulagem jogou-se na cadeira atrás da mesa. Arriou feito um caçuá de abacaxis. Na sala, os alunos gritavam; um se sentava no colo do outro, vinha outro, sentava-se, e outro se sentava no colo do último, riam todos e gritavam, eles foram se sentando até não caber mais ninguém. No outro lado da sala, um sobre o outro, um sobre o outro, um sobre o outro, eles formaram uma tábua de balanço. E aqueles sentados, um no colo do outro, a cadeira arriou e todos caíram na gargalhada. Outro, no fundão da sala, enfiou os braços dentro da blusa, antes ele dobrou as pálpebras, arrastava-se sala afora arrancando gargalhadas dos colegas que brincavam de pega-pega. O velho desejou ser criança, apesar dos severos castigos quando não decorava as regras de Mar Oumenu. Veio o turbilhão da sala e lhe alcançou. Pabulagem, por mais que tentasse se agarrar ao fluxo de consciência, foi rapidamente sugado pela força da bagunça. Por fim, ouviu-se o arroto. Era o final da aula. Pabulagem Monótono arrastou-se para a próxima sala de aula. Nos corredores da escola, viu-se na fase de alfabetização. Eram-lhe apresentadas aquelas sedutoras 26 letras e o sinal -ç, que teimava em ludibriar como se fosse -x, -ss ou -s, mesmo antes das vogais -a, -o, -u, passava-se pelo som de /s/. A escola, onde Pabulagem era professor, era a mesma, agora diferente daquela na qual foi aluno. Foi como se essas duas realidades paralelas estivessem divididas por uma cortina. Foi possível sentir o cheiro da professora primária, ouvir a voz, que alfabetizava letrando. Quem aqui perguntou, conhecia a alegria? Eu, professora! Se a conhecesse, descreveria como era? A letra -a está na palavra alegria; a letra -a está no começo e está no fim da alegria. Quem conhece a biblioteca? Se a conhece, então descreva como é. A letra -b está em biblioteca, no começo da palavra e depois ela se repete. Quem conhece casa? Se a conhece, descreva como é. Outra vez, a letra -a se repete em casa, no começo e no fim; e se tirar o -c de casa, a palavra cria asa. Quem de vocês viu, perguntava a professora, conhece a dor? Se a conhece, então, a descreva como é. A palavra dor começa com a letra -d. Ai, ai, ai! Que dor, D. Dorotéa, irmã de S. Doroteu. Onde dói? Dói aqui e dói ali. Isso não é dor coisa nenhuma; é o sono com vontade de dormir. Quem conhece o substantivo escola? A escola é um substantivo, professora? É. Não sabia? Não. Se a conhece, descreva como é. Escola começa com a letra -e. Outra palavra que termina com a letra -e... É picolé. Quem conhece a palavra feira? Se a conhece, descreva como é. A palavra feira começa com a letra -f. Quantas palavras vocês conhecem que começa com -f? Quem conhece a palavra grito? Se a conhece, descreva como é. Se não a conhece, todos sabem o grito como é. O grito começa com -g, esta é a primeira letra de garrafa, de girando, de garfo, de gafanhoto, de galo e de galinha. Galinha e o galo comem gafanhotos, que moram no mato, que giram um bocado, e acabam no prato a galinha e o galo, trazidos à boca pelo garfo. Quanto custa uma galinha, que começa com -g, que mora no mato? Quem de vocês conhece a palavra hoje? Se a conhece, descreva como é. Hoje começa com -h. Hoje é depois de ontem, hoje é antes de amanhã. O que vocês fizeram hoje? Quem conhece a igreja? Se a conhece, descreva como é. Igreja começa com -i. O que se faz na igreja? Quem conhece uma janela? Se a conhece, descreva como é. O que se faz na janela? E a janela serve de quê? Janela começa com -j; o mesmo -j de José, o mesmo -j de Josias, o mesmo -j de Jesus, o mesmo -j de Janice, o mesmo -j de Jaci. Quantos nomes com -j acaso vocês conhecem? Quem de vocês conhece livro? Se o conhece, descreva como é. Quem pode escrever livros é escritora, é escritor de palavras; e as palavras são vozes em palavras escritas. Um escritor, lá no anteontem, de sobrenome Kafka, escrito com a letra -k, foi autor de célebres histórias e livros, que contavam O Processo de um caixeiro-viajante que, n’O Castelo, foi transformado em um repugnante inseto morto pelo próprio pai que o atingiu com uma maçã verde, e matou o coração do filho, oposto a Édipo, que acertou o pai em cheio e desposou Jocasta, dos quais nasceram Antígona e Ismênia, que não fez a loucura de Ismália ao ver um disco-voador no céu e outro em seu louco amor. Você já sabe ler? disse. E o senhor, senhor, lê jornal? Quantos de vocês conhecem livros? Porque a palavra livro começa a ser escrita com a letra -l. Porque a letra -l é a primeira letra de livro. Há outras palavras que também começam com -l. Agora, vocês digam a todos vocês. Lápis escreve-se com -l, e também lapiseira, laranja e limão começam com -l. Luísa escreve-se com -l, e também se escreve com -l o Rei Baião. Quais outros nomes também começam? Quem de vocês conhece mala? A palavra que começa com a letra -m. Quem conhece, descreva como é. Há malas de todos os tipos, e há malas de todas as cores; há malas de carregar roupas, há malas de carregar dinheiro, há malas de carregar corpos. Malas feias, malas de couro de boi, e de couro de jumento, e de couro de javali, e de couro de jacaré, e de couro de tilápia. Quem de vocês conhece a palavra nome? Esta palavra começa com a letra -n. Assim, as palavras começam. Alguém, hoje, arrisca uma palavra assim? Todo mundo possui nome; quase todo lugar também possui. A letra -n, de nome, aparece em notícias, aparece em novelas. Quem pode identificar o -n em algum nome? Quem conhece algum objeto? Mas, primeiro, vamos saber o que é um objeto. Vocês olhem em volta de vocês. Muitas coisas podem ser objetos e, talvez, vocês saibam o que é. E esta palavra objeto começa com a letra -o. Assim, também começam as palavras ontem e onça, ônibus, onda e operário. Alguém, aqui, sabe o que é um operário? Quem de vocês sabe o que é pano? Se o conhece, descreva-o como é. O operário trabalha na fábrica, e é na fábrica onde se fabrica o pano. A primeira letra da palavra pano é a letra -p, e a primeira letra da palavra – palavra – também é a letra -p. Quem conhece palavra que começa com a letra -p? A letra -p está no começo da palavra padaria, e da palavra padeiro, e da palavra pão, e da palavra pedreiro. O pedreiro só compra pão na padaria por causa do trabalho do padeiro. Quem conhece outra palavra que começa com a letra -p? Pipoca serve e palhaço também; pai começa com a letra -p. Mas, agora, diga-me, não demore, e me diga. Quem conhece a palavra quilo, a palavra reduzida de quilograma? A palavra quilo começa com a letra -q. E alguém, aqui, acaso sabe o que é? O que se faz com o quilo? No quilo, mede-se o peso; e, com a régua, o tamanho. Também a mesma letra -q é usada em outras palavras; usada em queijo, por exemplo, usada em querer, em quiser, usada em quadrado, usada em quadro, usada em quê. Todos, com certeza, conhecem a rua. E esta palavra começa com a letra -r. Alguém arriscaria quais as palavras que correm pelas ruas com a letra -r? Relógio nunca corre por essas ruas, o que corre no relógio são as horas. Além de rua, a palavra relógio começa também com esta mesma letra -r. Todos, com certeza, conhecem o sol. A palavra sol começa com a letra -s. Também começa com a mesma letra o pássaro sabiá, que se vangloria perguntando aos pássaros, aves e passarinhos se eles também sabem que o sabiá sabia assobiar sozinho e sambar. Assim, não apenas o Sol começa com a letra -s. Começa com a letra -s o sal, o suor, o salário, o soldo, o soldado. E o soldado o que é? Diga-me. O que faz o sal? Agora, diga-me você. E como começa o suor? Diga-me. E o salário, o que é que significa? Agora, diga-me você. Palavras com a letra -s. Quem de vocês conhece tambor? A palavra tambor começa com a letra -t. Outras palavras também começam com a letra -t. O que faz um tambor? Diga-me. E como se faz um tambor? Agora, diga-me você. E quem toca tambor o que é? Diga-me. Quem quer tocar tambor com a letra -t? Quem sabe o que é o bicho urso? A palavra urso começa com a letra -u. Onde vive o urso, e de que se alimenta? Aqui, quem se arriscaria com outra palavra que começa com a letra -u? Na rua, a letra -u está no meio da rua, e a letra -u na palavra uso está no começo; na palavra um também, pois um começa com -u. A letra -u está no início de unir, e também é a primeira letra da palavra união. Quem conhece vassoura? E uma vassoura onde se compra? Vassoura é feita por quem? Vassoura começa com a letra -v. E depois da letra -v, qual é a letra que vem? Agora, diga-me você nesta atividade de avaliação prévia. Todos vocês, alguma vez, viram as duas letras WC? Estas letras juntas indicam porta de banheiro. A primeira letra é dábliu e a segunda letra é -c. Estas letras, na verdade, é a abreviatura de water-closet que, em inglês, é a palavra banheiro. Alguns nomes próprios são escritos com a letra -w, que vem depois da letra -v. Quem sabe, aqui, que William é o pai de Hamlet? William escreve-se com a letra -w, que é a próxima letra depois da letra -v. Quem sabe o que é xaxado? Xaxado escreve-se com a letra -x; e há um -x no começo e outro -x em seguida, dando o ritmo à palavra. Xaxado é dança típica. E o que é dança típica? Com -x também se escreve xamã, escreve-se Xangô, escreve-se xeique e logo se escreve xerife, escreve-se xícara e também se escreve xadrez. Quem conhece yakisoba? Yakisoba escreve-se com -y. Yakisoba é um alimento de outra cultura. Quem conhece a letra -z? Esta é a letra de Zezito, de Zé, de Zezinho. Todos sabem o que é zíper? A palavra zíper escreve-se com a letra -z. E com o zíper da letra -z fecha o alfabeto. O professor Pabulagem Monótono atravessou a cortina do tempo, e se dizia ser poeira das estrelas, estava atrasado para a próxima aula, trazia as provas debaixo do braço suado, o calor queria matá-lo. Atravessou as partículas. Comportou-se de forma quântica. Comportou-se matematicamente. Atravessou elétrons e átomos ou elétrons e átomos o atravessaram em superposição durante o trajeto. No horizonte de eventos, o acesso a esses mundos era possível. As novas tecnologias avançaram, e as suas conquistas se embrenharam no professor Pabulagem. Ele vivencia mundos através do tempo diacrônico, como atravessar de cortinas. Este professor avança e retrocede à memória muscular. Viaja em martelo agalopado, anoiteceu em Santana. Outra noite de forte chuva. O sol, quando voltou na manhã seguinte, levantou-se sobre as serras e os serrotes, os outeiros e os outões, os telhados e as casas, os casebres ribeirinhos. E o povo, outra vez, ouviu a música do sábado. Em Santana, na casa de grossas paredes, Cleobulina de cócoras, a saia enterrada entre as coxas, comia jaca. Santana é a cidade do sábado de feira e domingo de orações. É a vida sertaneja repleta de orações a Senhora Santana e o chapéu colhendo o sol. A vida só poderia ser vivida se a vida fosse iluminada pelo sol do sertão. O biografismo foi vencido; não havia ponto comum entre quem escrevia ficção e personagens criadas. Na manhã de mormaço, a professora Cleobulina, no Campus do Sertão, em lugar da chamada sugeriu a todos os alunos que erguessem a mão e cada um fizesse o juramento: O papel da ficção na realidade é o zelo da escola à aprendizagem. Os alunos matriculados na nova disciplina, Ciberescola, fizeram o juramento sugerido. A aula da professora sempre começava com um juramento solene à D. Educação. Há outra escola, disse a professora aos professores seus alunos, dentro da escola que se conhece, esta pode chamar-se também ciberescola. A inteligência avança em sua locomotiva a vapor nos trilhos das revoluções industriais. Segue a inteligência como a extensão de braços da máquina em diferentes setores, estes tentáculos do Doutor Octopus. Sem poesia não há escola, porque perde-se o imaginário da escola, depois se mediocriza a língua. Sem a força do imaginário, a escola fragiliza-se. Ela não fala, não ouve, não sente, não vê, perde o tato e, assim, as percepções escolares reforçam de que é melhor morrer, como morreu Ismália, como morreu Antígona. E a lógica ilógica segue, e se espalha fragilizando o que não pode ser fragilizado. Porque não se constrói escola sem poesia. Porque o telhado classificatório desaba, as paredes autoritárias oprimem quem se encontra entre elas. As escolas-serpentárias sussurram nas paredes da torre de babel. Algumas máquinas existem, não para funcionar, para se manterem em funcionamento outras. A escola pode salvar muitas vidas, mas também pode perdê-las. Algumas vidas perdidas pela escola dificilmente são recuperáveis, e isto se reflete em diferentes ondas anelando à flor da água quando, na Lagoa Mundaú ou na Lagoa Manguaba, se joga uma pedra e a água calcula o volume da pedra, o peso da pedra, o tamanho. Não está nas escolas, como se encontra em Perrault, apenas a realização dos desejos positivos, dos sonhos bons, com poderes mágicos da fada madrinha que transforma uma abóbora colhida na roça em carruagem dourada e faz de camundongos cavalos para conduzirem a carruagem de Cinderela, e as ratazanas gordas são transformadas em cocheiros e de lagartos fazem-se fortes lacaios para ocuparem o alto da carruagem. Escolas são lugares de lembranças, analogias; uma delas é o fracasso com a Torre de Babel. Nas mãos da escola, cada dedo representa palavras. Se um dedo informa, outro ensina, e há o dedo que lembra o conhecimento, o dedo da aprendizagem e o dedo da avaliação. O dedo mínimo representa a informação e o anelar representa o ensino pela circularidade existente. O médio é o dedo que estuda sânscrito. O indicador representa a aprendizagem, indicado a aprender. E as impressões digitais de um aluno são diferentes das impressões digitais de outro aluno, assim, o polegar significa a avaliação. Salas de aula diferem de cavalos-de-troia! disse o aluno do professor Pabulagem. Passava Cleobulina a piaçava, diante da porta da sala do professor, quando ouviu o berreiro dos alunos. Deus meu, meu Deus! gritou Cleobulina. Em que a escola se transformou! Suas provas, professor, sempre cheias de truques, cheias de ciladas. Quanto 8X5? Quem quer saber quanto 8X5! Queremos saber de beijar, de abraçar, de fazer bilu-bilu. Professor Pabulagem Monótono, tudo o que é captado pelos sentidos está informando. E o que é informação, professor? Cleobulina aprendia. Pessoas identificam as informações pelo olfato, pela visão, pelo paladar, pelo tato, não só pela audição, professor. Depois, professor, as informações estão nas ruas, nos jornais, nas rádios, nos cinemas. O que falta é organizá-las, professor. Aula que informa não ensina, professor. Eu sigo o currículo! disse Pabulagem, e saiu da sala. Voltou ao ver que Cleobulina parou a piaçava fora da sala e ouvia a conversa. Os currículos, Prof. Pabulagem, são ocultos, nulos, formais, informais, prescritos, reais, irreais. O paladar informa os sabores. Ensino é expectativa sem garantia de aprendizagem. E quem conhece, Prof. Pabulagem, entende melhor a realidade. Cada conhecimento é uma dúvida, professor. Eu quero tocar fogo nessa escola! saiu outro grito. Virgem, Santana, que está no céu junto a Papai do céu! gritou Cleobulina com a piaçava. Não há conhecimento sem perguntas, provocações e respostas. Se aprende ao conhecer o que se conhece, professor? Vá lavar roupa nos poços salobros do Panema! Lá fora, Cleobulina pôs a mão na boca, arregalou-se de espanto. Qual é o resultado de 5X8? Desista. O professor reúne livros, papéis, canetas, provas espalhadas. Sai. Os alunos acompanham-no. Seguem todos na procissão de promessas, de petições e de rogos. Professor, professor! gritavam os alunos por toda a extensão do corredor, na escola primária da Boa Vista. O sol de ouro derretia Maceió. As ondas na Avenida Saraiva tremiam. Não, não vá, volte. Por favor, volte, professor. Recitasse os seus versos sobre a sua poesia PÓS-ESTRUTURALÍRIOS, Prof. Pabulagem Monótono. Fosse a língua nesta estrutura/Força, força, força, força/Sem estrutura a língua cai;/Luta, luta, luta a escola com os moinhos/Em ondas e paradigmas/E luta a escola presa aos seus escaninhos//Metanarrativas nas pedras batem,/E batem e voltam as pernas globais numa festa de mil carnavais;//Nos momentos de rupturas bacantes nestas ditas dionisíacas festas/É só; vão, vão, vão em paz;/Os bêbados e os que bebem/Se quiserem ficar, fiquem na biblioteca/É, lá, onde meu coração deve estar//. Ufa! acordou. Foi a primeira noite, entre muitas, cujo sono pareceu tranquilo! disse Cleobulina às chinelas, que não cabiam os pés inchados.

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