Em sua adolescência gostava de contemplar o céu, onde permanecia horas no jardim de sua casa, observando o canto e o voo dos pássaros que cruzavam a pequenina cidade de Atalaia, no estado de Alagoas. O seu caminho era zoneado pelos passeios nos canaviais, distribuídos nos Tabuleiros Costeiros e pelos banhos com os amigos nas águas do Rio Paraíba e seus afluentes: riacho Isabel, Pedra Choca, e riacho da Garapa. A velha e pacata Atalaia ainda respira o cheiro da fumaça exalada pelas chaminés de suas usinas no período áureo da cana-de-açúcar, e das manhãs de cavalhadas e vaquejadas nos parques Graziela Thianny e Vicente Basílio.
Parte dessas lembranças ainda é guardada em uma redoma de cristal, no coração do nosso colega e amigo Ricardo Otaviano. O menino de engenho logo se transformou num jovem estudante, galanteador, e que sempre se fazia presente aos bailes realizados no Centro Social Atalaiense. O Museu do Banguê, testemunha viva dos acontecimentos que coroaram os anos de Sinhá e das antigas peças dos engenhos que brotaram dos canaviais de Atalaia, contribui de forma cívica para o engrandecimento do patrimônio desse município que tem na sua história, a sentinela do antigo Arraial do Palmar.
Meu amigo e colega Ricardo Otaviano, como foi gratificante tê-lo conhecido ainda nas primeiras investidas do curso de Agronomia. A sua simpatia logo contagiou a todos, que, com o mesmo objetivo, pegou carona no trem do vestibular. O início de sua juventude sob os acordes das canções que semearam a Bossa Nova e a Jovem Guarda foram suficientes para direcioná-lo ao violão, com o qual tantas vezes, animou os saraus na pracinha e nas rodas de amigos. Em dezembro de 2012,por ocasião da festa de confraternização alusiva aos nossos 40 anos de Engenheiros Agrônomos, em Recife, você,amigo, mais uma vez nos prestigiou com suas canções dedilhadas ao pinho. Fez-nos recordar os momentos de descontração em meio a uma atenção coletiva, as modinhas que cantava em nossos encontros eventuais. Os anos e os dias se passaram, mas não passou a alegria que sempre sentimos de estar com você. O violão e o tempo foi o título que me inspirei para homenageá-lo. Espero repetir esse momento por muitos anos, até que o último colega erga a bandeira da nossa vitória.
Com um Grande Abraço do colega e amigo Remi Bastos.
Crônica publicada no livro LEMBRANÇAS GUARDADAS (SWA Instituto, 2022 p.179)
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