NOME NA AREIA

Crônicas

Por Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras

Os segredos da vida são fragmentos dispersos de um grande enigma, que lentamente se revelam nos acontecimentos mais singelos, a exemplo de simples caminhada que realizei numa praia deserta da Barra de São Miguel, enquanto ideias corriam livres em fuga silenciosa da realidade, levando meu corpo e mente a se harmonizarem, deixando o coração conduzir o passeio.

À medida que o horizonte se estendia, pensamento viajava em episódios que relembravam eventos de alegria e desafios superados, ao passo que na vastidão do oceano, enxergava reflexos da minha trajetória, as vezes calmos e serenos, outros turbulentos e imprevisíveis, esses últimos sempre em defesa dos que amo.

E de repente parei para escrever meu nome na areia, sentindo que tal feito se apresentava como sussurrar segredos ao vento, pois cada letra desenhada, carregava parte de mim, instante capturado no cotidiano, vez que aqueles rabiscos temporários eram aceitos, sabendo que a maré logo os levaria. Gesto simples, mas cheio de significado, lembrança de que, assim como as ondas apagam os traços, tudo segue em frente, se reinventando.

E ali parado, ainda a meditar concluí ser o gesto de registrar o nome naquele ambiente singelo, ato de conexão com a natureza, como se gritasse ao mundo: "estou aqui, agora", sabendo que o momento é passageiro, mas, enquanto dura é eterno.

Ter a oportunidade de mostrar ao planeta, estar vivo, é afirmar a existência em cada batida do coração, respirar conectado ao presente, onde ocasiões se fazem sentir em cada instante, não sendo apenas um espectador da vida; mas criador de momentos, agente de mudanças, verdadeiro artesão da história.

Tempos depois, já com a água salgada afogando meus pés descalços, deixei o local, convencido que fazer história, não é realizar grandes feitos ou ser lembrado por multidões, mas sim saber tomar decisões, espalhar sorriso de forma compartilhada, enfrentar desafios, conseguindo gravar, aí sim, perpetuamente, no tecido do tempo as marcas do meu ser.

Retornei para casa certo de que, cabeça erguida, respeito à família, e valorização dos que me cativam, representam a tríade que fortalece o viver.

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