O OLHAR QUE ME COMOVE

Crônicas

Por Luiz Antônio de Farias, Capiá

Quando insisto, “batendo na tecla”, que a “nossa história tem que ser contada”, estou parecendo um pouco egocentrista ou, talvez, muito repetitivo. No entanto, fico no dever de dizer que minha afirmação seria até desnecessária porque muitos conterrâneos também vêm perseguindo esse objetivo, haja vista que nossa terra é pródiga nessa incumbência. Não é à toa que Santana do Ipanema foi distinguida como “Terra dos Escritores”, pela escritora Maria do Socorro Ricardo de Farias. Citar nomes dos historiadores, que têm o mesmo sentimento, seria desnecessário porque poderia incidir, com certeza, em incorrigíveis injustiças.

Estou fazendo esse arrodeio todo para anunciar que, há pouco tempo, promovendo sua debutação pelo caminho literário, surgiu um novo escritor: Sílvio Nascimento Melo, também cognominado Sílvio Constantino, com um belo trabalho, denominado “O Olhar Que Me Comove”. De chofre, senti-me na obrigação de tecer alguns comentários a respeito do livro, com o intuito de homenagear o estreante literato. Todavia fiquei, a princípio, obstado de realizar meu intento porque o excelente prefácio impulsionado pelo escritor Djalma de Melo Carvalho, meu mestre, definiu ali quase tudo que eu pretendia descrever.

Todavia, levando em conta que “o bom cabrito não berra”, criei coragem e fui em frente. Dentro da narrativa a que se propôs, o escriba prestou uma significativa homenagem ao neto, dedicando a ele o título da obra. Em seguida, concedeu seu preito de gratidão aos demais familiares. Não deixou de fazer pronunciar seu lado romântico quando enalteceu, com exatidão, a sensualidade das jovens santanenses, no momento em que fulgurou nele o despertar da sua juventude. Outro detalhe que merece comentário é a citação, no relato, do nosso artista-maior, Remi Bastos Silva, compositor de belas obras musicais exaltando nosso povo e nossos costumes, inclusive presenteando-nos com a composição do Hino Oficial de Santana do Ipanema. Convém também ressaltar, no meu modo de ver, a menção feita às figuras populares da terra, que proporcionavam os momentos caricatos do dia a dia de nosso rincão.

No entanto, um registro que remete a uma atenção mais amiúde, ao meu sentir, é a ressurreição de dois importantes conterrâneos que viviam no ostracismo perante muitos santanenses, e ali iriam permanecer se não fosse promovido o ressurgimento deles pelo autor. Trata-se de José Cândido – “O Menino de Puxinanã”, titulo de um dos livros por ele publicados – e de Breno Accioly. O primeiro eu já tinha alguma informação a seu respeito, inclusive como parceiro de João do Vale, na música Carcará, cantada pelos “pesos pesados” da musica popular brasileira de então – aí incluída Maria Betânia – no projeto Teatro de Arena, muito difundido na década de 80, no Rio de Janeiro. Com relação ao Breno Accioly, a única informação que este narrador tinha sobre ele era uma caricatura de “um estranho” meio boçal, retratada numa das paredes da antiga Cooperativa Agrícola de Santana do Ipanema, pitando seu inestimável charuto. Estava eu absolutamente enganado, ficando até envergonhado pela minha inexplicável ignorância, por desconhecer a figura de um conterrâneo tido como um dos melhores escritores da sua geração e que transitava competentemente entre os maiores figurões da literatura do Rio de Janeiro, cidade que galgava, naquele tempo, a condição de capital de nosso país.

Por conta disso, agradeço penhoradamente ao meu amigo, meu irmão do coração, meu dileto conterrâneo Sílvio de Manoel Constantino, que sacou, da minha ignorância, esse brutal e indesculpável desconhecimento, sobre o ilustre cidadão santanense, ora referenciado.

Contudo, só me resta dizer que o autor não cessará sua obstinação na obra literária sob comento, outros trabalhos virão, para o gáudio de nosotros.

Recife, setembro/2024

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