O vento se exprimia entre as frestas da janela emitindo um canto sepulcral. A noite, ofuscada pelo brilho das estrelas,adormecia o seu silêncio ao canto do vento, enquanto lá fora, a rua deserta chorava a solidão do luar, despedindo-se do menestrel que se recolhera à melancolia transportando no peito um sentimento nostálgico. Do meu quarto, consegui ouvir o estrilar dos grilos nas entranhas de um móvel antigo, como se fosse um coral de vozes humanas, desafinado, a torturar os meus ouvidos. Reservei aquele momento para uma reflexão dos meus dias. Senti o meu corpo chorar a fragilidade outorgada pelo tempo; minhas forças aos pouco se esvaem cedendo o fulgor da juvenilidade a tudo que resistiu dos meus dias. Onde estão aqueles que me acompanharam, dançaram e sorriram comigo no salão grená da vida sob a sinfonia da música suave, no fascínio da nossa juventude? As lágrimas que me restam deslizam sobre minha face como um regato que se distancia do seu leito, para alimentar um rio que deságua em outro rio. Muitos dos amigos se foram com as folhas de outono desprendidas de seu leito e levadas pelo vento para bem distante, até serem esquecidas por aqueles que as cultivaram e as regaram com a água da gratidão no exalar da fotossíntese de suas existências. As folhas caem, mas nascem outras em seus lugares, no entanto, talvez não tenham o mesmo brilho e o esplendor daquelas que se foram sem o nirvana de dizer adeus.
Aracaju/SE, 28/04/2012.
Crônica extraída do livro LEMBRANÇAS GUARDADAS - SWA Instituto 2022 - Pg 87.
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