Entramos em julho, o mês das convenções partidárias que vão formalizar nomes para candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador. É um mês que nos instiga a falar do voto e do poder que o cidadão exerce através dele, e onde no silêncio solene da cabine de votação, um ato simples se desdobra em significado profundo; engana-se quem pensa o contrário. Ali, diante das opções que moldam o futuro, estamos nós, contribuintes, cada um com sua voz única a ser ouvida e quem sabe reverberada. O voto é mais do que uma marca em um papel – época feliz em que a escolha do eleitor era materializada – ou um clique em botões; é um compromisso com a sociedade, um elo delicado, mas poderoso, entre o indivíduo e o coletivo. Entre o passado, o presente e o amanhã que nos espreita.
A cada eleição – aqui no Brasil é estranhamente a cada dois anos – somos convocados a decidir. Decidir não apenas quem nos representara, mas quais intenções, ideias, valores e princípios guiarão nossa cidade – já que tratamos aqui de eleições locais. É um exercício de reflexão e consciência, onde nossas convicções pessoais encontram o panorama mais amplo das necessidades da comunidade. Na solidão da urna, a promessa de um futuro melhor se entrelaça com a responsabilidade de escolher sabiamente, pois o voto não é apenas um ato isolado no tempo, ele é o resultado de histórias pessoais, lutas coletivas e aspirações compartilhadas e não compartilhadas.
Perguntou-me um amigo que abomina a venda e a compra de voto e, que, por isto mesmo, por mais que morra de vontade, nunca se aventurou e nem há de se aventurar a ser candidato a cargo nenhum: compra-se aquilo que não está a venda? Seu questionamento diz respeito a ética de tentar adquirir algo que não deveria ser comercializado, seja por princípios morais, legais ou de outra natureza. Reflete a ideia de que certos valores não deveriam ser negociáveis ou transacionados, pois são considerados intrinsecamente importantes ou sagrados. A propósito: aquilo que não é profano é sagrado? Eu não saberia responder esta pergunta, mas afirmo que o “voto comprado” corrompe profanamente a essência da democracia ao substituir escolhas informadas por favores pessoais ou ganhos momentâneos. Resumindo em frase de para choque: a dependência é uma merda!
Por norma, os candidatos que usam deste desonrado expediente – lembrando que jamais comprariam se este não tivesse a venda – são os mesmos que ao longo dos anos endossam decisões políticas que condenam o povo na miséria, na sujeição ou subordinação. O método é infalível: quanto mais vulnerável e ignorante um eleitor, mais fácil fica de corrompê-lo. Vota-se por tudo: uma dentadura, uma câmera de ar, a conta de luz, de água, o exame, a consulta, o cimento, a cachaça, a bola, a chuteira, o carro-pipa e por aí vai. A lista é infinita.
Pedir ao eleitor para votar com justiça e consciência é um apelo fundamental para garantir que cada voto seja uma reflexão cuidadosa sobre o futuro. É um lembrete para considerar não apenas interesses pessoais – ninguém foge deles – mas também o impacto das escolhas políticas na sociedade em sua totalidade. Não venda o voto, mas não se constranja e nem se intimide de tomar posse daquilo que lhe foi negado. Não se prenda a favores oportunizados de sua vulnerabilidade, inocência, pobreza ou necessidade. Na solidão emudecida da urna é só você e sua consciência. Não se esqueça de lembrar deste precioso detalhe!
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