DE MAÇAYÓ – VOZES NARRATIVAS ENTRE A POESIA & A PROSA – A MACEIÓ

Crônicas

Marcello Ricardo Almeida (*)

@poesia-pré-silábica – há 15 dias
Só escrevo o que não vejo, disse Haicai à Natureza. Um quadro em um conto é apenas um quadro; não há o que se especular por que surge um quadro na parede no início do que lhe conto; deixe isto ao poeta que sugere por natureza. Um conto não é pancada repentina, é simples correr de palavras em córrego sazonal. Não se lê um conto em uma hora ou uma tarde, um verdadeiro conto lê-se durante toda a vida. Uma crônica é diferente, disse a Natureza ao Haicai. A natureza une, a natureza separa. No olhar de Le Corbusier há linhas cartesianas. Nem todos os lugares são repletos de seu tempo. Nos barulhos retumbantes de canhões silenciosos. Há diálogos entre Le Corbusier e Fernand Léger. Nas confusões mecânicas. Léger disse a Le Corbusier. Ei! vamos beber em NY. Só se for acima dos prédios onde a arte possa ter visão plana. Pintarei esta cidade. Farei telas com abstrato geométrico. Descartes ensinou-me a ser cartesiano. E cada espaço é tão-só o espaço que delimito. Se há de fazer, faça. Só há tempo onde há lugar com praças que arborizam o dia a dia.
@prosa-teatro-feijão-com-arroz – há 15 dias
Aqui sabe a cidade é cartão-postal criado no miocárdio da feira do passarinho numa aglomeração de frutas e pernas de moças onde aumentam morosamente acanhados e suntuosos o barulho do trem nos trilhos e as casas de boa-sorte e as ruas coloridas e as praças de bonecos de aço e os becos do comércio e a rua do sol onde acaba de nascer o poeta da poesia pré-silábica e nascem os cinemas e as igrejas sabe nas esquinas falatórios habituais de estórias de política e de poetas a gloríola das biografias das flores no vergel do lago e as casas da levada e festa no rei pelé e acontecimentos corriqueiros no trapiche da barra e pescadores e jangadeiros nas areias da avenida da paz onde as ondas do sobral pouco a pouco transformam as lagoas e os mares navegando em jangadas de maçayó a maceió sabe como são diferentes as vozes narrativas que se estabelecem entre o ir e o vir

@poesia-pré-silábica – há 12 dias
O grilo na palha diz que, ao nascer Jesus, o povo crucifica até Deus. A coruja que habita o interior da mulher é calma e simples como a Lua. Crocita a coruja, noite escorre da serra; taramela a arara. Solo rachado, recado da natureza, não desenho estético. Pescador pesca o sol, pesca o sonho, tempestade, quando Iemanjá quer. Observe o trabalhador no shopping preocupado com salário e as férias atrasadas; são as últimas a fecharem as portas suas mãos de plástico e ferro; promovem o trabalho depois que escurece a Lua; e tudo é silêncio no mercado, na escola, na igreja; nas praças, tão-só os vazios; olham-se de soslaio as cadeiras; as mesas descansam doutra diária; o suor corre na ruga na folha do calendário passando dia a dia. Seu nome de batismo é Haicai casado com Natureza. Na velha floresta, pé de vento na árvore; e o folhear, aí, cai. E na casa do Haicai mergulham no balde d'água os pés cansados. Natureza e Haicai conversam, ele cochila ouvindo a voz dela. A esta hora sagrada em minha casa, na janela da sala o sol acorda a praia; desce o bando de maçarico-do-banhado; no jardim de casa, hortaliças tomadas pelo sopro do vento sul; no quintal, a jabuticabeira. Disse Haicai à Natureza: 1...2...3...4...5... Lavadeiras pulam no rio a e i o u. Para de bater o coração da árvore por causa dos jornais. Cerveja o Panema com água. Aqui, a poesia faz o poema; o verso une-se à rima. É a poesia quem melhora o mundo; sem poesia, o mundo apequena-se. Poesia no mundo antes da gênese louva o amor, que nunca termina. O mundo só vale a pena, em síntese, com poesia, bons alimentos e vinho. Poesia é a lanterna a iluminar o caminho.

@prosa-teatro-feijão-com-arroz – há 10 dias
Uma cartilha por onde muitos leem sabe é avenida da paz e o mundo não continua como se fosse há dez 20 trinta 50 anos se já é outro século e em maçayó dinheiro é seu povo hospitaleiro de coração é um riso um bom-dia no olhar dos coqueiros o povo na rua crianças nascendo pessoas morrendo são tantas e veja outras casando-se e o parque deixa marmundaúguabalagoas cheia de casas com peixes dia a dia que vestem mesas vindo do mar onde as ondas quebram-se nas pedras

@poesia-pré-silábica – há 8 dias
O dia está preso às pedras. E é verdade que a mentira mais atrapalha do que ajuda. Veja as pedras sobre o mar. Neste mar de pedras, onde o dia repete-se. O dia é um repetir, este repetir que aprisiona um dia a outro dia. A repetição quase imperceptível de acordar, sair, voltar, dormir. Quão dormir pede que se repita este repetir sem nunca desistir de repetir-se.

@prosa-teatro-feijão-com-arroz – há 7 dias
Povo tem a beleza que merece sabe no mundo não há outra pajuçara quanto vale uma praia sol água de coco-da-baía verde em casas de palhas sabe na orla de lindas mulheres e praias e largas areias e votos de que não há no mundo outra pajuçara feito esta que se cronifica em ondas na liberdade de navegar

@poesia-pré-silábica – há 5 dias
No tempo do Paraíso, Adão & Eva reconhecem a natureza no quadro. Napoleão caça Joana D’Arc desde a época das caravelas. Depressa o tempo passa, e os alagonautas viajam. Passa a lua e o luar sertanejo e passa o sol nesta vivência tão rápida, no universo.

@prosa-teatro-feijão-com-arroz – há 5 dias
Toda estrada leva à praia de cruz das almas sabe e dias sucedem aos dias levando à praia de cruz das almas sabe o imaginário e o realismo fantástico nunca vistos lugares de figuras marinhas de histórias de livros onde a baleia cachalote encontra outras baleias e os pescadores em jangadas atravessam galáxias dos dias sucedendo dias sabe de ondas sucedendo ondas levando aos olhos das máquinas o dia a dia enquanto aprisionam a beleza e deixa cada vez cruz das almas navegar em sua paz porque toda a estrada leva à praia de cruz das almas

@poesia-pré-silábica – há 3 dias
Isto lembra que a letra A se chama amor, e a letra E me lembra Eva, letra I é onde começa igreja, letra O é oração, letra U é união.

@prosa-teatro-feijão-com-arroz – há 3 dias
Em jatiúca em ponta verde coqueirais na aquarela do pássaro que alimenta o garrafão de vinho nas praias num vaivém sabe e vão continuar sabe arrebentando o quadro a pintura em sentido único antigas máquinas pra desmontarem muralhas onde infância vidas secas e angústia viajam alagonautas sabe e o cordão em volta da academia de letras e do teatro em movimento oscilatório na leitura do tempo feito a crônica filha de Cronos

@poesia-pré-silábica – há 2 dias
Nada melhor nesta manhã se comparada ao sol; veja, é manhã cedo, quando estrelas sonolentas uma a uma se vão neste instante mágico em que os mercados se tornam pechinchas nas bancas de limões, laranjas, pitombas, seriguelas; pinhas conversam animadas sobre outra mesma manhã de caminhar, subir ladeiras, andar, nadar, navegar.

@prosa-teatro-feijão-com-arroz – há 1 dia
No rio catolé de histórias costumam contar novos e velhos oficina de crônica chega a santana de maçayó – vozes narrativas – a maceió na rodagem desde o litoral.

(*) Autor do livro “A crônica filha de Cronos”.

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