O HOMEM, PREDADOR DE SÍ MESMO

Crônicas

Por Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras

Lá atrás, quando Deus criou a terra com seus apetrechos, outorgou ao homem e à mulher o poder de gerenciá-los.

O impressionante porém, é que os gerados à imagem e semelhança do Pai Maior, nunca se acomodaram, sempre formando duas castas: as que estão no poder e aquela dos que ali querem aterrissar, estabelecendo ciclo que dificilmente se fechará, mas se bem analisado, fomenta resposta para tudo quanto existe e ocorre. Até as revoluções.

Tempos atrás, tive oportunidade de visitar Moscou e como todo turista, fui ao Kremlin onde as edificações em seu entorno mereceram especial atenção.

Cada componente possuindo significativa importância: Praça Vermelha com o túmulo de Lênin; catedral de São Basílio; fortalezas ou igrejas da Anunciação, Assunção e São Miguel Arcanjo.

Contudo, o que mais me impressionou foram as salas, guardando a exuberante opulência confiscada dos Czares, quando da revolução russa ocorrida no início do Século XX, levando ao poder o Partido Bochevique.

Contam os estudiosos que, até 1917, o Império Russo era uma monarquia absolutista, sustentada pela nobreza, dona da maioria das terras e poder do mundo. No contra ponto dessa concentração estava a grande massa populacional, pobre, passando fome, sem saber ler ou escrever, recebendo dos governos somente incentivo caracterizado por ínfimo numerário.

Nos ambientes que guardam riqueza descumunal, vislumbrei centenas de pepitas de ouro, no tamanho de bolas de futebol, legítimos ovos fabergê, coroas, tiaras e broches, além de espadas, sapatos, tronos, vestidos, escudos e armaduras diversas, lunetas, caixas de joias, pistolas, espadas e até tapa sexos, além de dezenas de carruagens, tudo revestido em pedras preciosas, marfim e prata, somando-se às coleções de esmeraldas, rubis e similares, sempre a granel, muito fazendo lembrar a caverna de Alí Babá, cuja estória pitoresca encantou-me a infância.

O mais interessante é que, naquele espaço também existem peças já tomadas pelo atual governo, dos dirigentes da então União Soviética (URSS) recentemente extinta, destacando-se dezenas de barras de ouro, nas quais está impresso o conhecido símbolo da foice e do martelo, um dos marcos do socialismo. Já me dirigindo à saída, imaginei o quanto restaria, ainda, para ser exposto.

Em minhas caminhadas pelo mundo tive oportunidade de conhecer Castelos de Marajás Indianos, espólios de Xás do Irã, acervos como os de Versalhes, Faraós, Dinastia Ming na China, e até da bem comportada monarquia inglesa, mas nunca vislumbrara tamanha riqueza, como as vistas nas Câmaras da Armaria e Fundo de Diamantes, nas dependências do Kremlin.

Cada dia mais me convenço que a esperança de um homem somente é infinita porque seu sonho, também o é. Contudo, os seres pensantes tornam-se predadores de si mesmos não somente quando seus intuitos são materializados, mas principalmente, quando eles passam a gerir tudo o que tanto ambicionaram.

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