MEUS FAMILIARES E AMIGOS, BOA NOITE!
Cumprimento minha sobrinha Christiane Bulhões, Prefeita de Santana, em nome da qual cumprimento os demais membros da mesa.
Vou compartilhar um pouco das minhas memórias de vida. Não se assustem, são quase 90 anos mas vou resumir.
Nasci em 1934 no sítio Puxinanã, zona rural de Santana do Ipanema, em dezembro completo 90 anos.
Mudei-me junto com meus pais e 3 irmãos, Miguel, Expedito e Josa, para cidade de Santana do Ipanema. Tinha 4 anos e um Rosário no pescoço, que foi quebrado por maloqueiros na minha primeira aventura na rua, onde levei uma pisa, e chegando em casa, levei a segunda, por ter quebrado o Rosário.
Já em Santana minha mãe ainda teve mais 5 filhos, Moacir, Maria, Teresinha, Márcio e Nenoi.
Dos 6 aos 12 anos trabalhei com meu pai em uma bodega, onde hoje funciona a Aline acessórios.
Uma experiência marcante dessa época, é que durante a segunda guerra mundial um dos principais produtos era o gás óleo, que na época era um produto importado, e hoje conhecido como óleo diesel, que sofreu um forte racionamento nesse período. Cada pessoa só poderia comprar 1 litro, e eu era o responsável pelo fracionamento e fornecimento, de forma justa e correta para toda a comunidade.
Lembro também dessa época, que um dos melhores amigos do meu pai, era o dono do cartório, Benício Barros, pai de diversas personalidades da nossa querida terra, onde destaco meu saudoso cunhado, o ex-prefeito Isnaldo Bulhões Barros. Sr Benício trabalhava o dia todo sentado no cartório e meu pai o dia todo em pé na bodega. Quando fechava o cartório, Sr Benício ia para bodega bater papo e Sr Ursulino depois de 1 hora de conversa já com sono e Sr Benício piscando os olhos, meu Pai fazia uso de uma senha infalível para encerar a conversa: era meu pai dizer, Sr. Benicio, puxe a cadeira para sentar e ele prontamente dizia, não não não Ursulino, já estou indo embora, boa noite.
Após a guerra, o comércio enfrentou uma grande crise, e meu pai foi uma das vítimas, fechando a bodega na região mais valorizada e central da cidade e indo para Rua São Pedro, na época uma região desvalorizada, mas que era a entrada dos produtos agrícolas para nossa cidade, em especial feijão, milho e algodão. Ali trabalhei, compartilhando meu tempo com atividades estudantis.
Quero fazer uma homenagem de gratidão a minha primeira professora, que me ensinou a ler e escrever, professora Melânia Oliveira.
Duas grandes alegrias desse meu período de juventude, foram ingressar por exame de admissão no ginásio Santana e a conquista do meu emprego no IBGE. O ginásio Santana, por mim carinhosamente apelidado de Velho casarão, onde fiz o curso ginasial, curso normal, curso técnico de contabilidade, fui professor, vice diretor, diretor, presidente do conselho municipal da Cnec e conselheiro da Cnec estadual, onde foram 45 anos de dedicação ininterrupta para proporcionar uma educação de maior qualidade para muitos santanenses que hoje exercem um papel brilhante no cenário estadual e nacional, a exemplo do desembargador José Carlos Malta em Maceió e do desembargador Sebastião Coelho Neto em Brasília, Geraldo Bulhões e Luís Abilio, ambos governador de Alagoas, Malta Neto, Presidente da Academia Santanense de Letras, Ciência e Artes, e muitos outros. Lista muito longa para citar todos.
Tenho a certeza de que praticamente todos os presentes aqui, tiveram algum familiar impactado positivamente pelo velho casarão. Gostaria de fazer uma referência especial, a secretaria de governo, primeira prefeita da nossa cidade e senadora, minha competente cunhada Renilde Bulhões.
Durante minha trajetória no ginásio Santana tenho também orgulho de ter sido um grande incentivador da Banda Fanfarra Maestro Miguel Bulhões que brilhava nas ruas de Santana, nos momentos cívicos, e também em outras cidades do interior, inclusive tocou em Olho D’Água das Flores no ano que ela foi alçada a Município, e até na Capital do nosso Estado, Maceió.
Começou com cerca de 12 músicos e no auge chegou a cerca de 50 músicos. Nesse período também realizávamos a semana da pátria organizada pelo professor Guimarães, movimentando e embelezando a frente do nosso Ginásio, com bandeiras hasteadas de todos os Estados do nosso Brasil. Tenho certeza de que muitos tem fotos nessas bandeiras.
No IBGE, iniciei minhas atividades em 1953, como auxiliar de estatística, galgando promoções como chefe de agência e estatístico nível 3, tendo sido inclusive cotado para assumir a delegacia regional de Alagoas. Onde dediquei 45 anos até me aposentar.
Durante esse período, produzimos relevantes informações de toda região sertaneja por mim supervisionada, que serviram de base para decisões governamentais estratégicas. Também no IBGE fui responsável pela delimitação das fronteiras dos municípios desmembrados de Santana, como: Poço das Trincheiras, Maravilha, Ouro Branco, Senador Rui Palmeira, Carneiros, Dois Riachos e Olivença.
Também fui um jovem apaixonado pelo futebol, tendo inclusive jogado no Ipanema Atlético Clube ao lado do grande goleiro Zuza, de Zé V8, que foi substituído posteriormente por meu irmão Josa.
Após vivência comercial ao lado do meu pai no comércio de cereais, na minha infância e juventude, tive aos 28 anos, minha primeira experiência empresarial em sociedade, com meu compadre Eraldo Bulhões, quando arrendamos o cinema local pertencente à Sr. Tiburcio Soares.
Foi um tempo de glória no cine Alvorada, trouxemos dentre outros grandes clássicos da história do cinema, Ben Hur. Foi motivo de grande expectativa na cidade e um sucesso de público.
Nessa época, o cine Alvorada foi palco de shows memoráveis como Luiz Gonzaga e Nelson Gonçalves. O Cine Alvorada era sem nenhuma dúvida, o maior centro de diversão de nossa cidade.
O petróleo volta a aparecer em minha vida quando o pioneiro no comércio de gás de cozinha da nossa região, o contador Luiz Medeiros, resolve se desfazer do pequeno negócio da revenda da Alagoas gás em Santana, eram apenas 20 unidades que atendia um pequeno grupo de privilegiados que pouco uso fazia dessa moderna invenção que era o fogão a gás. Para incentivar o uso desse produto fui convidado pelo Sr Édson Queiroz, um visionário que foi um dos maiores empreendedores da história desse país, a abrir uma loja de fogões aqui em Santana. Quando eu indaguei se as pessoas iam comprar o fogão, ele respondeu: venda em suaves prestações, pois se até a pessoa não conseguir pagar o fogão, você vai ganhar dinheiro vendendo o botijão de gás.
Vale lembrar que o bloco de carnaval da Brasílgás fez grandes sucessos nos nossos saudosos carnavais de rua em Santana. Tenho certeza de que Dr. Roberto Salgueiro, meu querido cunhado, e Ana galega filha de Sr. Adair e viúva de Mardônio, lembram fortemente desses grandes e alegres momentos vividos.
A dimensão do petróleo na minha vida cresce quando, em um belo dia, no início da década de 70, eu estava na porta do Banco do Brasil, e estaciona um Aerowillys com ar condicionado, algo incrível da época, e o proprietário me aborda, se identificando como funcionário da Texaco do Brasil S/A, dizendo que estava a procura de um empreendedor para montar um posto de gasolina, eu prontamente respondi:
Encontrou a pessoa certa, esse terreno aqui ao lado do banco é meu, vamos construir aqui? Ele prontamente vibrou e me apresentou duas propostas, sendo R$ 20 mil financiado ou R$ 10 mim de bonificação, como eu me planejei e era organizado financeiramente, onde me preparava para oportunidades, prontamente aceitei a bonificação em vez do empréstimo.
Entregamos em 1972, um belo e moderno posto Texaco, projetado pela competente arquiteta Vilma dos Anjos. A partir desse posto, o Grupo Jota Pinto conta hoje com 10 unidades, espalhadas do litoral ao sertão de Alagoas, que hoje é liderado pelo meu primogênito Ibn.
Finalizo minhas palavras, falando sobre meu melhor investimento, meu melhor negócio e minha melhor sociedade, que foi a construção de minha família com Zélia. Minha gratidão a Deus e a ela.
São 57 anos de casados, onde temos 5 filhos, além dos anjos gêmeos, Gil e Guy, noras e genros, 11 netos e 5 bisnetos.
Por fim, sinto-me feliz e honrado por receber a COMENDA BRENO ACCIOLY, que por coincidência hoje sou proprietário do sobrado onde esse ilustre santanense nasceu, soube agora, a mim concedida pela Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes, presidida pelo meu amigo Malta Neto e fruto de indicação de um membro dessa academia que não está mais entre nós, Antônio Azevedo Filho.
(*) Discurso proferido na última sexta-feira - 05/04/2024, quando da entrega da Comenda Brenco Accioly, outorga concedida pela Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.
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