A metafórica expressão "Ovo de Colombo" refere-se a soluções que encontramos para certos problemas, agindo de uma maneira que nos parece simples, comum, até natural, mas que, na verdade, houve época em que ninguém havia pensado naquilo, até que alguém planejou e resolveu agir daquela forma. Daí em diante, aquele método se tornou corriqueiro, solução óbvia; mas que nem sempre teria sido assim.
Contam que, depois do descobrimento da América, Cristóvão Colombo passou a desfrutar uma fama de dar inveja a Galileu, Gagarin ou mesmo aos Beatles. Os institutos castelhanos de pesquisa registravam homéricos índices de popularidade colombina, percentuais que, desde aquela época, só são menores do que os da popularidade de Lula, posição esta nunca alcançada por outro personagem histórico.
Certo dia, Colombo foi convidado para mais um banquete em que lhe prestariam honrosa homenagem.
Na ocasião do evento, lá estava Colombo cercado de admiradores. Foi aí que um dos convidados, enciumado com a badalação em torno do nome de Colombo, lhe fez a seguinte pergunta:
– Você descobriu o Novo Mundo, certamente merece reconhecimento, mas, por acaso, acredita que não existem outros homens na Espanha que poderiam ter realizado esse mesmo empreendimento?
Colombo, mantendo a fleugma, não respondeu diretamente, apenas propôs um desafio aos presentes. Pegou um ovo de galinha e desafiou todos os que ali se encontravam a colocar o tal ovo em pé, assentado sobre uma de suas extremidades.
Muitos foram os que decidiram tentar vencer o desafio. Debalde (palavra que, à época, estava em voga, assim como “em voga” era naquele momento uma expressão em voga). Todos fracassaram.
Depois de muitas tentativas, os desafiados voltaram-se para Colombo e declararam a impossibilidade de realizar aquela façanha.
Colombo pegou uma pitada de sal, espalhou um pouco num canto da mesa e assentou o ovo sobre os cristalinos grãos (há quem diga que ele bateu cuidadosamente o ovo contra a mesa até que a casca se quebrasse levemente na parte mais arredondada), e com isso foi simples colocá-lo em pé.
O homem que o havia provocado protestou:
– Assim, qualquer um pode fazê-lo!
Colombo respondeu:
– Sim, "qualquer um", mas... qualquer um que tivesse tido a ideia. – E concluiu: – Uma vez que eu mostrei o caminho do Novo Mundo, qualquer um, agora, poderá segui-lo. Ou seja, quem aprendeu a lição e quiser realizar o mesmo feito terá apenas que se decidir a colocá-la em prática.
Contam ainda que, entre os convidados, estava o navegador português Pedro Álvares Cabral, que, diante da lição dada por Colombo, acreditou ter aprendido a realizar grandes navegações. Cabral estava convicto de que poderia até fazer um pouco mais, chegar um tanto mais longe que seu colega espanhol. Assim pensando, o comandante português se lançou ao mar.
Dias depois de iniciar a aventura que o levaria à paradisíaca Pindorama, Cabral aportou nas Ilhas Canárias e postou uma carta a Colombo, através da qual fazia a seguinte observação:
– Você nos ensinou a colocar o ovo em pé, fator considerado imprescindível para realizar grandes navegações, mas, já nestas primeiras milhas navegadas, posso lhe garantir que, com o mar agitado, mantê-lo nessa posição é praticamente impossível.
Moral: Para fazer mais que os outros, às vezes precisamos quebrar um pouco mais a casca do ovo ou aumentar a quantidade de sal em que este será apoiado.
P.S.: Há quem acredite que Lula não deve firmar certos acordos em nome da elegibilidade ou da governabilidade. Saibamos, porém, que, nesse caso, fazer mais que Lula exige firmar aliança até mesmo com Judas, ou (de mais alto risco) com Cristóvão Buarque.
(*)Fernando Soares Campos é escritor, autor de "Saudades do Apocalipse - 8 contos e um esquete", CBJE, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro, 2003; "Fronteiras da Realidade - contos para meditar e rir... ou chorar", Chiado Editora, Portugal, 2018; e "Adeildo Nepomuceno Marques: um carismático líder sertanejo", Grafmarques, Maceió, AL, 2022.
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