AS CINZAS DA CREMAÇÃO

Crônicas

Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras

Outro dia Jesualdo ligou apavorado querendo conversar o mais rápido possível, e lá estávamos sentados em uma mesa de restaurante quando segredou que o irmão de Generosa havia falecido vitimado por um acidente vascular cerebral.

Acontece que o cunhado, era um namorador inveterado, daqueles de fazer inveja ao próprio Calígula em suas orgias romanas. E na realidade o seu último suspiro, aconteceu no quarto de um motel, nos braços de uma princesa recém saída da adolescência, quarenta e cinco aninhos mais jovem que o galante sexagenário.

O pervertido, preocupado em manter a sua hombridade sempre merecendo elogios da novinha, engoliu um comprimido viagra com vinte e quatro horas de efeito duradouro. Foi verdadeira bomba atômica para o seu organismo, explodindo algumas de suas veias. Mas quase ninguém na família sabia da verdade dos fatos.

Atendendo a desejo do pranteado, os familiares resolveram cremar-lhe o corpo e foi justamente durante tal cerimônia que ficaram sabendo da realidade do acontecido e o pior, a acompanhante, chegou ao local informando estar grávida de três meses.

A irmã de Generosa se retirou do local enlouquecida com a notícia, levando consigo os filhos. Germinia, ficou então responsável por aguardar a urna com as cinzas do defunto para posteriormente entregar na casa onde residiam.

Horas depois ao chegar no endereço, a sobrinha tomou o maior susto pois a viúva ainda estava a espernear, não por haver perdido o marido, nem por haver tomado mais um chifre, acontecimento a que estava acostumada, mas pela gestação da outra.

A enxergar o pote nas mãos de Germinia, a enfurecida esposa, deu um salto o tomou de suas mãos, correu e trancou-se no banheiro sendo seguida por filhos, empregada e até pelo cachorrinho de criação Lulu da Pomerânia que atendia pelo nome de Snow.

De tanto bater conseguiram arrombar a porta do sanitário e ali encontraram a traída ainda desnuda levantando-se do bojo e gritando: - Pronto já resolvi. Despejei a cinza, fiz xixí, defequei em cima e já dei descarga. Agora ele está onde merece.

Foi ai que Jesualdo confidenciou estar com muito medo pois a furiosa era tão passiva quanto Generosa. E se a moda pega? Estarei perdido. Juro por tudo que vou deixar por escrito que proíbo de ser incinerado ao morrer.

Pedi uma cerveja, tentei puxar outro assunto para fazê-lo pensar em algo mais ameno e aos poucos notei que surtiu efeito pois ele começou a sorrir, quando de repente chegaram ao ambiente cinco meninas de vinte e poucos anos, todas lindas e maravilhosas.

Ao vislumbrá-las ele imediatamente ficou sério e falou: - Está vendo aquela usando vestido róseo? Semana passada fui divertir um pouco em uma boate e ela começou a me dar bola extrema, trazendo comigo uma garrafa de espumante importado e duas taças, facilmente a abordei, tempos depois aproveitando a intensidade do barulho, encostei um pouco mais em seu corpo, com dupla intenção evidentemente, foi quando ela falou: - Fico toda molhada quando converso com você. O Don Juan dos Trópicos questionou: - Lhe excito assim? Ela respondeu: - Não, me cospe toda.

Uma loucura o Jesualdo. Tomara que um dia, não deem descarga nele também.

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