SANTANA

Crônicas

Lúcia Nobre

Escola; igreja; praça; algumas ruas; no comércio, sobrados; poucas lojas de comerciantes que nem enriquecem, nem ficam pobres, a não ser que engajem na política. Um cinema, o Santa Sofia que se localiza no fim da Camoxinga. O rio é aquele não permanente, mas nunca deixa de suprir as necessidades dos moradores. Aprenderam economia. Economizam água para tudo. Se for da macela é para beber, não é potável, mas é a que se tem. O transporte é através de burros guiados por meninos. Como os meninos carvoeiros, que vedem o carvão de casa em casa, os dos burrinhos com ancoretas vendem e abastecem a cidade com o líquido precioso. Mais tarde, aparece o carro pipa com água do São Francisco. Todos se deliciam com a gostosa preciosidade, mesmo sem ser tratada. Nem água encanada, nem energia elétrica, trabalho dobrado para a dona de casa. Alimentação fresquinha compra-se todos os dias: não há refrigerador. Não se conhece televisão. Quem não trabalha, conversa. As crianças brincam na rua. A biblioteca é precária para quem gosta de ler. Às noites, os vizinhos conversam nas calçadas e colocam a quartinha com água nas janelas para esfriar. Não há progresso. Há um senado onde se comenta tudo sobre todos. A andorinha anda sozinha e o gavião tem a língua solta. A mocinha não namora muito, porque fica falada. A mulher que anda de saia muito justa pode levar uma carreira da vaca. O homem que pula a cerca vai se encontrar com as abóboras. As pessoas não conhecem outra forma de viver. Supermercado, shopping, produtos de marcas, filhos estudando na Europa, só nos romances, acaso forem lidos.

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