Otimismo sempre foi a praia de Jesualdo, e apesar de não ser possuidor de uma compleição física das melhores, ele se achava bonito. Casou mas nunca perdeu o charme.
Era final de tarde, vinha realizando o meu habitual exercício diário, quando ao passar bem próximo aos dizeres, “eu amo Maceió” na Pajuçara, escutei alguém chamar meu nome. Olhei rapidamente e vi Jesualdo, com uma feição que nem de longe combinava com a sua permanente altivez, seu jeito de “Don Juan”.
Rapidamente lhe perguntei o que estava a fazer ali? Estou aqui apreciando o movimento, respondeu ele. Lhe questionando o motivo de tamanho baixo astral, ele afirmou estar ali, já há quase sessenta minutos, e para sua tristeza, quando passa uma garotinha fala como ela e todas respondem:- Boa tarde, como vai o senhor. Indagando qual o problema, ele respondeu não aceitar ser tratado tão respeitosamente.
Tentei minimizar o seu sentimento, afirmando tal fato também acontecer comigo, por somente quase me chamarem de senhor. E fui mais longe recomendando que a partir de agora nessas situações ele começasse a ser norteado pela cabeça pensante. Dá menos problemas e fica bem mais barato.
Foi quando Jesualdo confidenciou que estava com um problemas serio em casa, apesar de acreditar estar quase contornado. Imediatamente ele começou a me contar:
Sabe Rostand, Gerusa minha esposa é uma figura fantástica, sempre nos demos muito bem, mas para mim, já na casa dos sessenta, mulher nova é a fonte da juventude.
Semana passada, continuou ele, Gerusa, me convidou para no sábado à noite ficarmos em casa, ela havia encomendado tira-gostos e pratos principais em restaurantes de nossa predileção, tomaríamos um bom vinho e assistiríamos ao filme “cine paradiso” que eu tanto adoro. Apesar de normalmente tal confraternização a dois, não acontecer rotineiramente, topei encarar o programa sem sacrifício.
Tudo preparado, mesa posta, os alimentos já haviam chegado, o vinho refrescado ao ponto, agua com gás, banho tomado, cheiroso como se fosse passear na rua. Estava certo que faria uma excelente média e posteriormente teria alvará tipo “vale night” por no mínimo um mês, quando ela chegou cheia de boas intenções trazendo um pen drive na mão, inserindo-o na smart tv da sala, iniciando a projeção.
Quase morro de susto, continuou ele, quando a película apresentada mostrou cenas, nas quais o artista principal era eu, seu amigo Jesualdo, aos beijos e abraços com uma jovem lindíssima que conhecera dias antes em uma barraquinha da praia.
Meu mundo caiu, Rostand. Por pouco não enfartei, pois fui obrigado a me assistir xumbregando com a moçoila por quase uma hora, ouvindo sermões intermináveis.
Comecei a chorar muito, ajoelhei aos pés de Gerusa, pedi mil desculpas e a noitada de alegria, foi por água abaixo. Fui obrigado a dormir no quarto dos hospedes.
Nunca imaginei, ela haver contratado alguém para me seguir. Mas acho que Gerusa está disposta a esquecer. Não sei o que fazer, vou começar a me comportar. Errei, mas sou inocente, pois nesse caso, fui curiosamente seduzido pelo conto de fadas.
Antes de retornar aos exercícios, lhe abracei e desejei juízo e boa sorte.
Literatura: LAMPEJOS DE DON JUAN
CrônicasAlberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras 25/10/2021 - 11h 04min
Comentários